FOLHA DE SP - 03/06
SÃO PAULO - Minha amiga Cláudia Collucci foi ao Rio para o Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia e voltou com uma bela reportagem sobre a fórmula para chegar bem aos cem anos de idade.
Não tenho planos de ir tão longe, mas acho que há uma questão anterior sobre a qual médicos raramente se debruçam. Por que precisamos envelhecer, antes de mais nada?
Em princípio, uma vez que as células do corpo se renovam continuamente, não seria impossível em termos bioquímicos manter a mesma performance corporal para sempre. Por que, então, isso não acontece?
Os biólogos Peter Medawar e George Williams oferecem uma explicação. A culpada é a evolução
darwiniana: características que beneficiem o indivíduo mais velho às expensas de fases anteriores tendem a ser extirpadas pela seleção natural.
A razão é muito simples e tem bases aritméticas: uma vez que a morte pode chegar a qualquer instante, seja na forma de uma moléstia infecciosa, seja na de um meteorito desgovernado, são muito maiores as chances de alguém ser jovem do que de ser velho (é mais provável uma pessoa completar um ano de idade do que dez, ou 20 ou cem).
Mesmo que fôssemos imunes a doenças e ao envelhecimento, dificilmente viveríamos para sempre. Com o passar dos milênios, acabaríamos vítimas de algum acidente bizarro que nos decepasse ou esmagasse.
E, na economia evolutiva, seria um erro "enfraquecer" alguém de, digamos, 20 anos, com vistas a facilitar-lhe a vida aos 40. Bastaria essa pessoa dar de cara com um mamute raivoso para que o investimento se perdesse. Assim, genes que fortalecem organismos jovens à custa dos mais velhos são favorecidos pela matemática e tendem a acumular-se no transcurso do tempo.
É esse mecanismo que nos leva a envelhecer e morrer. O que nos afasta da imortalidade, portanto, é uma simples anomalia estatística.
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