FOLHA DE S.PAULO - 30/05
Na escrita, a norma culta tem de ser respeitada. A prova da OAB mostra o que acontece quando os alunos não sabem utilizá-la: 93% de reprovação
Na imprensa portuguesa, vez por outra, publica-se crítica à existência do acordo ortográfico de unificação da nossa língua.
Alguns jornais afirmam que os filólogos brasileiros encheram o documento de "bizarrices inúteis", enquanto outros reclamam que a Academia das Ciências de Lisboa, parceira do projeto, errou pelo excesso de "cedências" às hipotéticas pressões neocolonialistas do Brasil.
É evidente que nada disso faz sentido. Devemos ter mesmo só uma forma de expressão escrita, para que o nosso idioma passe a ser, estrategicamente, adotado como uma das línguas oficiais da Organização das Nações Unidas. Falar é outra coisa. Cada um segue falando de acordo com a sua tradição.
Da mesma forma, não se pode defender a existência interna de uma separação linguística, dividindo o falar do rico e do pobre.
O Vocabulário Ortográfico, editado pela Academia Brasileira de Letras, tem 370 mil verbetes, o que é uma amostra da sua força e da disponibilidade das palavras para todos. Machado de Assis fez toda a sua extraordinária obra de romancista com o emprego de somente 16 mil vocábulos.
Temos uma realidade plurilinguística, considerando-se basicamente que a norma padrão (culta) deve ser respeitada nos códigos escritos, pois são esses que, mais tarde, os estudantes terão que utilizar nos seus diversos concursos.
Veja-se o que aconteceu na seccional paulista da OAB. Dentre os 20.237 candidatos (bacharéis em direito), o índice de reprovação foi de 92,8%, o que levou o presidente Luiz Flávio Borges D'urso a afirmar que "há pessoas que chegam à prova e não sabem conjugar verbos ou colocar as palavras no plural".
Você já imaginou as petições que serão escritas por essa gente?
Para debater o assunto, que envolve também o uso exagerado do terrível internetês, as Academias Brasileira e Paulista de Letras realizaram seminários em defesa da língua portuguesa.
Na ocasião, comemorou-se o fato de a venda de jornais ter crescido significativamente nos dois últimos anos, desmentindo a tese catastrofista de que os impressos em geral serão desbancados em curto espaço de tempo pela mídia eletrônica.
Num estudo intitulado "Medium Matters" (em português, pode significar tanto "Questões de Meio" quanto "O Meio Importa"), da Universidade de Oregon (EUA), afirma-se que um leitor de jornal em papel retém o conteúdo mais que um leitor on-line. Isso parece ter sido percebido pelo povo brasileiro, inclusive os integrantes da sua ampliada classe média.
Antes de nos entregarmos totalmente ao emprego do tablete, convém que se prepare mais adequadamente os nossos professores e especialistas.
Encher as escolas, desordenadamente, de computadores de todos os tipos não será a forma de promover o que é essencial: o conhecimento mais profundo dos mistérios e da beleza do idioma de Fernando Pessoa e Manoel Bandeira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário