FOLHA DE SP - 30/05
Líderes da finança entram em negócios no varejo, em alimentos e nos serviços; banqueiro prevê retomada
O PESSOAL DA indústria e do ramo de imóveis parece desanimado. Mas seus colegas empresários da finança e do varejo parecem otimistas.
Considere algumas notícias de negócios desta semana e a visão de um grande banqueiro sobre o andar da carruagem brasileira.
Ontem, o presidente do Itaú, Roberto Setubal, expôs num seminário sua visão serenamente otimista para a economia brasileira. Sim, banqueiros costumam ser avessos a alarmismos.
Mas Setubal afirmou que, sim, claro, o crédito no Brasil vai crescer mais devagar, mas ainda ao ritmo de 15% a 20% ao ano (nos anos insustentáveis do boom luliano, chegamos ao ritmo de 30% ano).
Em termos reais, dá algo entre 10% e 15% ao ano, no mínimo o triplo do ritmo do crescimento da economia que a gente pode esperar para os próximos três anos.
Não dá, fica claro, para o crédito segurar a peteca do crescimento, como ocorreu nos anos Lula. Mas é claro também que não podemos esperar razoavelmente que a economia brasileira cresça apenas à base de crédito para o consumo.
O banqueiro disse ainda que o nível de inadimplência vai cair (até porque os bancos estão sendo mais rigorosos e concentrando empréstimos em linhas que têm mais garantias). Por fim, Setubal estima que no final de 2012 o Brasil vai estar crescendo ao ritmo de 4% ao ano.
Quanto aos negócios, o bancão de investimentos BTG anunciou que vai investir em outra firma de varejo, a rede Leader, do Rio, da qual deve comprar uma parte (por R$ 1 bilhão). O BTG já entrou no negócio de farmácias (Brazil Pharma), de estacionamentos (Estapar) e de serviços hospitalares (Rede d"Or).
O Gávea, de Armínio Fraga e cia., associou-se à Cosan (alimentos e energia) e à Camil (processadora de grãos, arroz & feijão) para criar uma grande empresa nacional de alimentos (enfim, o BNDES ficou fora de uma dessas "campeãs nacionais").
O GP Investimentos vendeu a Fogo de Chão (sim, a rede de churrascarias) para um fundo de investimentos em empresas americano, o Thomas Lee, por US$ 400 milhões (quase R$ 800 milhões). A FedEx (logística, entregas etc.) pretende comprar a Rapidão Cometa (distribuição, transporte e logística). As empresas farmacêuticas (os produtores de medicamentos) estão se fundindo e se reorganizando em firmas maiores.
Ou seja, o pessoal de peso da finança brasileira está ativo, colocando dinheiro em negócios de varejo e serviços, mesmo com a piora das perspectivas de crescimento da economia brasileira.
Aliás, note-se que a finança privada enfim se associa a negócios que, não faz muito tempo (uma década e pouco), eram de varejo no pior sentido da expressão, administrados "no varejo", em empresas familiares sem grande estrutura ou estratégia para crescer (vide o caso de farmácias e de alimentos).
De fato, os negócios de abertura de capital na Bolsa de Valores andam mal parados e tão cedo não verão dinheiro, dados a fuga de investidores estrangeiros e o preço baixo dos papéis, que não estimulam empresa nenhuma a vender novas ações.
Mas o mercado está vivo em outros cantos; os donos do dinheiro grosso parecem confiantes -pelo menos no consumismo brasileiro.
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