O GLOBO - 17/05
Estão dizendo, governo e bancos, públicos e privados, que nada mudou com a poupança. Mudou, sim. E para pior, do ponto de vista do poupador. Dizem que mudou "apenas" a fórmula de cálculo dos rendimentos para poupanças novas. Pois é, só que a nova fórmula dará um resultado menor para o poupador, sempre que a taxa básica de juros for de 8,5% para baixo.
A melhor verdade, digamos assim, seria dizer que a nova fórmula é positiva para o conjunto da economia, pois a regra velha estabelecia um piso informal para a taxa geral de juros. Esta não poderia cair abaixo de 8,5%, pois isto tornaria a poupança muito mais rentável que outros investimentos, desequilibrando o sistema. Com a alteração, a taxa geral pode ir mais baixo, beneficiando toda a economia.
Mas derrubar aquele piso significa, necessariamente, reduzir o rendimento da poupança. O que foi feito. Só para os novos depósitos, certo. Mas para o pequeno poupador, sobretudo, justamente agora quando a poupança ia pagar mais que as outras aplicações, não vai mais.
TORCIDA DO FLAMENGO
O dólar vai a R$ 2, e o ministro Mantega diz que ele e a torcida do Flamengo estão satisfeitos com isso.
No mesmo dia, a Petrobras divulga seu balanço - com queda no lucro e sem alcançar metas de produção - e diz que o dólar a R$ 2 prejudica a estatal.
A empresa tem uma dívida líquida em dólares - US$ 76 bilhões - a uma taxa de câmbio flutuante. Ou seja, com o dólar mais alto, a dívida medida em reais fica mais cara. A Petrobras precisa agora de mais reais para pagar as prestações.
Além disso, a empresa mais importa do que exporta. Logo, vai pagar mais caro também nessas compras externas.
Alguém poderia dizer que a Petrobras não faz parte da torcida do Flamengo. Mas faz. É patrocinadora, até.
Outro detalhe: Mantega é o presidente do Conselho da Petrobras e voltou a dizer que o preço da gasolina não vai aumentar. Já diretores da estatal dizem que estão amargando prejuízos e que o preço precisaria aumentar.
Também não devem ser flamenguistas os brasileiros que viajam para o exterior, especialmente as novas classes médias que se beneficiavam da tal "bolsa Miami".
Certo, o ministro tem uma meia verdade quando diz que o dólar caro beneficia uma parte da indústria brasileira, pois os importados ficarão mais caros e o produto local - que já era mais caro - fica mais competitivo. Sim, mas todos, nacionais e importados, vão sair mais caros para os consumidores, flamenguistas ou vascaínos.
Por outro lado, espera-se que o dólar mais caro turbine as exportações industriais brasileiras. Mas: o mundo está crescendo menos e, pois, comprando menos; a indústria brasileira continua não competitiva por conta do custo Brasil (impostos e infraestrutura); o governo brasileiro não consegue (nem quer) fazer acordos de livre comércio com nenhum país.
Periga a gente ficar mais com o lado negativo do dólar caro.
Resumo até aqui: tudo em economia tem verso e reverso. Pode-se dizer que mudança na poupança e no dólar têm efeitos positivos neste ou naquele setor. Mas é falso, muito falso, dizer que é bom para todo mundo.
CRÉDITO
O argumento parece simples: com taxas de juros menores, os consumidores tomarão mais dinheiro emprestado, comprarão mais, e isso movimentará a economia.
Dados da Serasa Experian, entretanto, mostram que em abril último diminuiu o número de pessoas que procuraram crédito e aumentou a inadimplência. Explicação: famílias já muito endividadas estão mais preocupadas em colocar os carnês em dia.
BAIXANDO A BOLA
Não faz muito tempo, o governo garantia que o país cresceria 4,5% neste ano, com inflação a 4,5% (a meta oficial), e tudo isso com o dólar mais caro e os juros mais baixos.
Agora, o ministro Mantega diz que um "piso" de crescimento de 2,7% (resultado do ano passado) já está muito bom num mundo difícil.
E o presidente do BC, Alexandre Tombini, lembra,
en passant, que a inflação ficou abaixo dos 5% em apenas três anos.
Combine os dois comentários, e o que se segue? Estão preparando o ambiente para menos crescimento e mais inflação, como no ano passado. E, de novo, a culpa é dos gringos, claro.
A única coisa que cresce mesmo no Brasil é a arrecadação de impostos. Ano bom, ano ruim, e a receita do governo sempre sobe acima da inflação.
A presidente Dilma reconhece que temos um problema de impostos altos, como na energia, por exemplo. Promete reformas pontuais, mas não propriamente uma redução da carga, pois há
A melhor verdade, digamos assim, seria dizer que a nova fórmula é positiva para o conjunto da economia, pois a regra velha estabelecia um piso informal para a taxa geral de juros. Esta não poderia cair abaixo de 8,5%, pois isto tornaria a poupança muito mais rentável que outros investimentos, desequilibrando o sistema. Com a alteração, a taxa geral pode ir mais baixo, beneficiando toda a economia.
Mas derrubar aquele piso significa, necessariamente, reduzir o rendimento da poupança. O que foi feito. Só para os novos depósitos, certo. Mas para o pequeno poupador, sobretudo, justamente agora quando a poupança ia pagar mais que as outras aplicações, não vai mais.
TORCIDA DO FLAMENGO
O dólar vai a R$ 2, e o ministro Mantega diz que ele e a torcida do Flamengo estão satisfeitos com isso.
No mesmo dia, a Petrobras divulga seu balanço - com queda no lucro e sem alcançar metas de produção - e diz que o dólar a R$ 2 prejudica a estatal.
A empresa tem uma dívida líquida em dólares - US$ 76 bilhões - a uma taxa de câmbio flutuante. Ou seja, com o dólar mais alto, a dívida medida em reais fica mais cara. A Petrobras precisa agora de mais reais para pagar as prestações.
Além disso, a empresa mais importa do que exporta. Logo, vai pagar mais caro também nessas compras externas.
Alguém poderia dizer que a Petrobras não faz parte da torcida do Flamengo. Mas faz. É patrocinadora, até.
Outro detalhe: Mantega é o presidente do Conselho da Petrobras e voltou a dizer que o preço da gasolina não vai aumentar. Já diretores da estatal dizem que estão amargando prejuízos e que o preço precisaria aumentar.
Também não devem ser flamenguistas os brasileiros que viajam para o exterior, especialmente as novas classes médias que se beneficiavam da tal "bolsa Miami".
Certo, o ministro tem uma meia verdade quando diz que o dólar caro beneficia uma parte da indústria brasileira, pois os importados ficarão mais caros e o produto local - que já era mais caro - fica mais competitivo. Sim, mas todos, nacionais e importados, vão sair mais caros para os consumidores, flamenguistas ou vascaínos.
Por outro lado, espera-se que o dólar mais caro turbine as exportações industriais brasileiras. Mas: o mundo está crescendo menos e, pois, comprando menos; a indústria brasileira continua não competitiva por conta do custo Brasil (impostos e infraestrutura); o governo brasileiro não consegue (nem quer) fazer acordos de livre comércio com nenhum país.
Periga a gente ficar mais com o lado negativo do dólar caro.
Resumo até aqui: tudo em economia tem verso e reverso. Pode-se dizer que mudança na poupança e no dólar têm efeitos positivos neste ou naquele setor. Mas é falso, muito falso, dizer que é bom para todo mundo.
CRÉDITO
O argumento parece simples: com taxas de juros menores, os consumidores tomarão mais dinheiro emprestado, comprarão mais, e isso movimentará a economia.
Dados da Serasa Experian, entretanto, mostram que em abril último diminuiu o número de pessoas que procuraram crédito e aumentou a inadimplência. Explicação: famílias já muito endividadas estão mais preocupadas em colocar os carnês em dia.
BAIXANDO A BOLA
Não faz muito tempo, o governo garantia que o país cresceria 4,5% neste ano, com inflação a 4,5% (a meta oficial), e tudo isso com o dólar mais caro e os juros mais baixos.
Agora, o ministro Mantega diz que um "piso" de crescimento de 2,7% (resultado do ano passado) já está muito bom num mundo difícil.
E o presidente do BC, Alexandre Tombini, lembra,
en passant, que a inflação ficou abaixo dos 5% em apenas três anos.
Combine os dois comentários, e o que se segue? Estão preparando o ambiente para menos crescimento e mais inflação, como no ano passado. E, de novo, a culpa é dos gringos, claro.
A única coisa que cresce mesmo no Brasil é a arrecadação de impostos. Ano bom, ano ruim, e a receita do governo sempre sobe acima da inflação.
A presidente Dilma reconhece que temos um problema de impostos altos, como na energia, por exemplo. Promete reformas pontuais, mas não propriamente uma redução da carga, pois há
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