FOLHA DE SP - 02/05/12
RIO DE JANEIRO - De repente, o mundo descobriu que a geração "baby boom" está em idade de se aposentar. Os "baby boomers", você sabe, foram as crianças nascidas logo a seguir à Segunda Guerra, quando milhões de soldados voltaram para seus países e começaram a casar e a procriar em massa. Os que tinham ficado em casa, de ouvido na BBC, fizeram o mesmo, talvez por uma sensação de alívio diante do apocalipse que não aconteceu, mas poderia ter acontecido -e, então, mais do que nunca, pela súbita existência da bomba atômica.
Curioso é que, em vez de partir para a esbórnia em face do possível fim do mundo, os jovens do pós-Guerra adotaram a singela atitude de casar e "constituir família". Pode ser que, depois de anos em trincheiras, reais ou metafóricas, o lar lhes parecesse um casulo protetor. Daí tantos casamentos e, em meses, milhões de novos cidadãozinhos no mundo. Um deles, eu -porque, nascido em 1948, sou um legítimo "baby boomer".
Bem, passaram-se décadas e os "baby boomers" já podem ser avaliados. Em vários departamentos, não fizemos feio. Ativos desde os anos 60, implantamos o sexo sem culpa, a consciência ecológica, os direitos das mulheres, das minorias e dos animais, revolucionamos a tecnologia, avançamos espetacularmente a medicina e as comunicações etc.
Em compensação, tornamos as cidades impraticáveis, disseminamos as drogas, destruímos o cinema e a música popular, triplicamos a pobreza, intoxicamos o planeta com publicidade, carros e agrotóxicos, compramos e vendemos armas, políticos e tudo que pudesse ser negociado -enfim, vamos deixar também uma bela lambança.
E pensar que nossos pais, quando nos conceberam, só queriam um pouco de sossego, "Seleções", Ovomaltine, discos de Tito Schipa, uma cama quente, pijama e, para eles, sim, uma merecida aposentadoria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário