FOLHA DE SP - 27/04/12
A TAXA REAL DE JUROS "básicos" no Brasil foi abaixo de 3% nos últimos dias, pelo menos segundo uma das duas ou três maneiras relevantes de fazer essa conta (nesse caso, uma taxa do mercado futuro menos a expectativa de inflação nos próximos 12 meses). Por outras contas, o juro real está na casa de uns 3,5%.
Na campanha eleitoral de 2010, o pessoal de Dilma Rousseff dizia que uma das prioridades macroeconômicas da agora presidente era levar a taxa real para algo entre 2% e 3% até o fim do mandato, além de baixar a dívida do setor público para 30% do PIB e conseguir equilíbrio nas contas do governo (deficit zero ou perto disso).
"Missão cumprida" (no caso dos juros), como disse George Bush, filho, sobre o Iraque?
Melhor que responder é perguntar: 1) como os juros "básicos" baixaram tanto (um recorde histórico no Brasil); 2) e daí?
Como os juros baixaram?
Primeiro, o juro real está baixo porque o Banco Central é hoje mais pragmático, digamos. Dadas as condições em que assumiu, a presente diretoria considerou que seria custoso demais dar uma paulada na inflação no curtíssimo prazo (o que exigiria uma paulada nos juros).
Na prática, para o bem ou para o mal, tolerou uma inflação mais alta por mais tempo. Além do mais, recorreu a instrumentos que não a taxa de juros para controlar a inflação. Juros mais contidos e inflação mais alta dão em juro real menor.
Segundo, e mais controverso, diz-se que seria possível hoje controlar um certo nível (ou alta) de inflação com um nível (ou alta) menor de juros. Apesar das querelas estatísticas, é o que vem acontecendo no Brasil na última década -ou pelo menos a tendência vinha sendo essa. Se tal coisa continuou a acontecer nos dois últimos anos, já é mais difícil de saber ou de estimar.
Terceiro, o contexto monetário internacional é extravagante. Como Dilma gosta de dizer, há um "tsunami" monetário varrendo o planeta, resultado das políticas de estímulo econômico no mundo rico. Grosso modo, sobra dinheiro sem uso e taxas de juros reais são negativas nos EUA e na Europa. O Brasil pega um pouco de carona nessa história.
E daí? Os juros "básicos" caíram (a meta do BC; o piso dos juros na praça do mercado, negociado entre os donos do dinheiro grosso). Mas os dias são dominados pela grande querela dos juros, na qual se batem governo e bancos privados.
Os juros reais "básicos" caíram, mas nossos problemas de restrição e regulação de crédito continuam. Despioraram, mas estão aí. Não corre leite e mel em bancos e empresas.
Os juros reais estão na casa de 3% e os "spreads" flutuam na estratosfera de 35% (menos, decerto, se a gente deixar de lado as taxas malucas de cartão de crédito e cheque especial). Será, porém, muito difícil o juro real cair ainda mais e, mesmo que caísse, isso não refrescaria a situação de quem toma crédito.
Dar um susto e uma corrida nos bancos talvez ajude a cortar uns pontos das taxas médias para o tomador final. Muito mais não se consegue. Motivo? Faltam dinheiro, poupança, um mercado de crédito melhor, com mais garantias e mais competição. O juro real baixo e os limites do sucesso da campanha do governo vão enfim tornar evidente o nosso impasse, que depende de "reformas" para ser resolvido.
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