A sociedade civil vai se mobilizar ou serão as construtoras de sempre (e as de ocasião) a dar as cartas?
NA QUARTA-FEIRA, estive no Instituto Tomie Ohtake saboreando delicadezas como o minicamarão ao molho curry e o kibinho de beringela para celebrar o "Freedom Day", data que neste ano marcou os 18 anos da 1ª eleição pós-apartheid na África do Sul, que levou Mandela ao poder.
Os quitutes estavam daqui, ó, e a ocasião não poderia ser mais oportuna para trocar experiências sobre como organizar uma Copa do Mundo, tendo em vista que o Consulado da África do Sul aproveitou a festa para lançar um livro importante: "Reflexões e Oportunidades - Design, Cidades e Copa do Mundo" com a presença da autora, Zahira Asmal, uma urbanista que se especializa no impacto que megaeventos geram nas grandes cidades.
Entre uma bocada em um minirrolinho primavera e outra em um croquete de palmito (sim, eles existem!) descobri que Zahira trabalha com uma abordagem chamada "design thinking".
Conhece não, meu ilustradíssimo leitor? Então pense: obra do Minhocão, de Paulo Maluf, Transamazônica e obras apressadas da construtora Delta. Trouxe os elefantes brancos ao primeiro plano mental?
Agora comece a ouvir uma sirene imaginária tocar bem alto no seu ouvido. "Design thinking" é a antítese, o extremo oposto, desse grotesco que eu lhe propus imaginar. Arranque esse inferno de concreto inviável da mente e conceba um mundo em que os melhores pensa dores pudessem opinar na hora de construir uma via, uma praça, uma escola, um estádio, um aeroporto, uma usina, quem sabe, que não fosse em Belo Monte.
O livro de Zahira explica que "design thinking" significa organizar de maneira sustentável. Calma. Eu sei que dá sono cada vez que ouvimos a palavra. Mas, neste contexto, não estamos falando exatamente do mesmo "sustentável" do saquinho de supermercado.
Para construir uma linha de metrô que irá ligar o estádio ao centro, o "design thinking" propõe que não prevaleça apenas a vontade de engenheiros e agentes públicos, mas também sejam ouvidos historiadores, antropólogos, técnicos do terceiro setor, economistas, sociólogos, juristas, enfim, uma gama de especialistas, para que eles avaliem como o projeto resistirá à passagem do tempo.
"A África do Sul está em posição privilegiada", diz Zahira. "Temos a experiência de ter sediado o torneio e podemos compartilhá-la." Nós já estamos vendo Itaquerões e Itaquerinhos brotando por aí e continuamos sentados de braços cruzados. O que estamos esperando? A sociedade civil vai se mobilizar ou mais uma vez serão as construtoras (as de sempre e as nascidas de ocasião) a dar as cartas?
Em Londres, só para dar um exemplo de solução de urbanização que derrubou barreiras e integrou a cidade, há uma lei que obriga cada área nobre a acolher X metros de "public housing", de "moradias públicas". É um passo ousado, que talvez nem caiba discutir aqui. Já imaginou alguns andares das torres em cima do shopping Cidade Jardim serem cedidas à CDHU?
Por enquanto, melhor ficar com uma pergunta mais simples: como é possível, em sua principal comemoração, que o Consulado do país que recebeu a última Copa, situado na cidade mais importante do país que irá abrigar o próximo Mundial, não tenha sido prestigiado por nenhum jornalista esportivo, grande arquiteto ou autoridade municipal, estadual e federal de peso? Será que ficaram todos em casa assistindo na TV o desenrolar do caso Delta?
Os quitutes estavam daqui, ó, e a ocasião não poderia ser mais oportuna para trocar experiências sobre como organizar uma Copa do Mundo, tendo em vista que o Consulado da África do Sul aproveitou a festa para lançar um livro importante: "Reflexões e Oportunidades - Design, Cidades e Copa do Mundo" com a presença da autora, Zahira Asmal, uma urbanista que se especializa no impacto que megaeventos geram nas grandes cidades.
Entre uma bocada em um minirrolinho primavera e outra em um croquete de palmito (sim, eles existem!) descobri que Zahira trabalha com uma abordagem chamada "design thinking".
Conhece não, meu ilustradíssimo leitor? Então pense: obra do Minhocão, de Paulo Maluf, Transamazônica e obras apressadas da construtora Delta. Trouxe os elefantes brancos ao primeiro plano mental?
Agora comece a ouvir uma sirene imaginária tocar bem alto no seu ouvido. "Design thinking" é a antítese, o extremo oposto, desse grotesco que eu lhe propus imaginar. Arranque esse inferno de concreto inviável da mente e conceba um mundo em que os melhores pensa dores pudessem opinar na hora de construir uma via, uma praça, uma escola, um estádio, um aeroporto, uma usina, quem sabe, que não fosse em Belo Monte.
O livro de Zahira explica que "design thinking" significa organizar de maneira sustentável. Calma. Eu sei que dá sono cada vez que ouvimos a palavra. Mas, neste contexto, não estamos falando exatamente do mesmo "sustentável" do saquinho de supermercado.
Para construir uma linha de metrô que irá ligar o estádio ao centro, o "design thinking" propõe que não prevaleça apenas a vontade de engenheiros e agentes públicos, mas também sejam ouvidos historiadores, antropólogos, técnicos do terceiro setor, economistas, sociólogos, juristas, enfim, uma gama de especialistas, para que eles avaliem como o projeto resistirá à passagem do tempo.
"A África do Sul está em posição privilegiada", diz Zahira. "Temos a experiência de ter sediado o torneio e podemos compartilhá-la." Nós já estamos vendo Itaquerões e Itaquerinhos brotando por aí e continuamos sentados de braços cruzados. O que estamos esperando? A sociedade civil vai se mobilizar ou mais uma vez serão as construtoras (as de sempre e as nascidas de ocasião) a dar as cartas?
Em Londres, só para dar um exemplo de solução de urbanização que derrubou barreiras e integrou a cidade, há uma lei que obriga cada área nobre a acolher X metros de "public housing", de "moradias públicas". É um passo ousado, que talvez nem caiba discutir aqui. Já imaginou alguns andares das torres em cima do shopping Cidade Jardim serem cedidas à CDHU?
Por enquanto, melhor ficar com uma pergunta mais simples: como é possível, em sua principal comemoração, que o Consulado do país que recebeu a última Copa, situado na cidade mais importante do país que irá abrigar o próximo Mundial, não tenha sido prestigiado por nenhum jornalista esportivo, grande arquiteto ou autoridade municipal, estadual e federal de peso? Será que ficaram todos em casa assistindo na TV o desenrolar do caso Delta?
Nenhum comentário:
Postar um comentário