quinta-feira, março 22, 2012

Um ano depois - ROGÉRIO GENTILE


FOLHA DE SP - 22/03/12
SÃO PAULO - Eduardo Braga assumiu a liderança de Dilma no Senado proclamando que a presidente decidiu dar um basta ao fisiologismo. "Chegou o momento de novas práticas na política. A política do toma lá dá cá está no passado."
Se verdadeira, a disposição saneadora da presidente merece, claro, ser elogiada. Mas é necessário um pouco de cautela. Primeiro porque não faz um mês que Dilma nomeou para o Ministério da Pesca alguém (Marcelo Crivella, da Universal) que não entende nada do assunto só para evitar críticas dos evangélicos ao PT na eleição. Isso é a nova política? Outro dado a ser considerado é o fato de que, ao anunciar o "basta", o governo acabou admitindo que o tal "toma lá dá cá" existiu até então. Sendo assim, seria importante que o Senador explicitasse quais são essas práticas com as quais Dilma não aceita mais conviver após sete anos como ministra de Lula e um ano depois do início do seu mandato. Em tempos de julgamento do mensalão, pode ser uma boa contribuição.
Além disso, por mais que o marketing oficial louve a "faxina" que Dilma fez no ministério, a bem da verdade, ela, na maioria das vezes, apenas reagiu ao noticiário. Só demitiu quando a imprensa apontou problemas contra esse ou aquele ministro.
Limpeza, de fato, teria feito a presidente se não tivesse nomeado ou reconduzido ao cargo muitos dos quais foi posteriormente obrigada a demitir e sobre quem há muito já se conhecia a fama ou o currículo. Ou será que Dilma, ao resgatar Palocci, ignorava a história da quebra do sigilo do caseiro? E ao nomear Pedro Novais, não sabia que ele era acusado de gastar verba pública em motel?
Dilma tomou posse prometendo ser rígida na defesa do interesse público.
As declarações do seu líder e a atual crise no Congresso são animadoras na medida em que apontam para essa direção. Mas só o tempo vai dizer se a presidente está efetivamente dando um basta ao fisiologismo ou apenas redividindo o bolo.

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