sábado, março 10, 2012

A taxa desacelera, mas será possível reajustar a gasolina? - LUIZ ROBERTO CUNHA


FOLHA DE SP - 10/03/12


O IPCA de fevereiro, 0,45%, veio dentro das previsões e manteve a trajetória de desaceleração da variação acumulada em 12 meses, agora 5,85%, primeiro resultado abaixo de 6,0% desde janeiro de 2011. Este resultado deve ter sido comemorado pelo BC, pois continua sinalizando uma trajetória em direção ao centro da meta, mesmo com as sucessivas e intensificadas reduções da Selic.

Grande parte deste resultado deve-se à evolução neste início de ano dos preços de alimentos e transportes públicos, que, ao contrário de 2011, apresentam uma evolução bem mais favorável.

Os serviços continuam pressionando. A redução de 9,20% para 8,10% na variação acumulada em fevereiro deve ser qualificada. A partir deste ano, o BC modificou a composição deste grupo, incluindo passagens aéreas (antes consideradas preços administrados) e alimentação fora (antes não duráveis).

Tecnicamente a nova classificação é correta, mas como as passagens aéreas na coleta do IPCA vêm apresentando grande volatilidade (em janeiro, alta de 10,61%, em fevereiro, deflação de 8,84%), agora temos volatilidade nas decisões do BC e também nos serviços... Mas o importante é olhar para a frente. O que esperar da inflação em 2012 e qual o efeito de uma política monetária mais "flexível" sobre a inflação.

Sabemos que, apesar da trajetória de desaceleração no IPCA nos próximos meses, mesmo com taxas mensais um pouco mais elevadas, devido à comparação com os resultados de 2011, a partir de junho começa a ficar mais difícil essa desaceleração. Seria importante para que as expectativas do mercado não se "descolem" muito em relação à atuação do BC que no acumulado até maio os resultados estivessem pelo menos um pouco abaixo de 5%.

Isso até é possível, mas para tanto dois importantes reajustes deverão ser mais uma vez adiados. Um é o da gasolina, cujo preço vem apresentando defasagem e prejudicando a Petrobras. O outro é o do cigarro, cujo reajuste de 25% anunciado para o final de 2011, visando organizar o mercado, reduzindo o contrabando, foi adiado para abril, e isso garantiu que o topo da meta de 6,5% em 2001 não fosse ultrapassado.

Ou seja, como parece que o BC tem hoje duplo mandato, inflação e atividade, sabemos que uma inflação em 2012 próxima de 5% com um crescimento mais para 4% estaria dentro de seus objetivos.

Mas é importante que isso não seja alcançado adiando reajustes necessários, pois isso afeta a credibilidade da política econômica, o que poderia, mesmo com as enormes incertezas na economia mundial, afetar a inflação em 2013, desviando-a ainda mais dos 4,5% do centro da meta.

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