FOLHA DE SP - 11/03/12
RIO DE JANEIRO - Leio nos jornais que os moradores de Niterói estão preocupados com a violência urbana que invadiu a cidade vizinha, do outro lado da Guanabara, de onde, aliás, se tem a vista mais bonita do Rio. Atribuem a atual situação aos bandidos expulsos das favelas pelas UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora).
Durante anos, o carioca que passasse por dificuldades, perda de emprego ou genérica quebração de cara encontrava, como única solução, mudar-se para Niterói, onde a vida era mais barata. Havia gente que ia fazer a barba na antiga capital do Estado do Rio: apesar das barcas, era mais barato.
O pai era redator de "O Paiz", jornal incendiado pela revolução de 1930 porque apoiava o governo de Washington Luís. Foi parar em Icaraí, onde passei parte da minha infância. Quando sinto o cheiro de florestas menstruadas (a imagem é de Nelson Rodrigues), lembro a praia que me parecia imensa e branca, onde aconteceu o fato mais importante da minha vida.
Até os cinco anos, eu era mudo. Além de não ter qualquer motivo para falar, nascera com defeito de fabricação. Até a manhã em que vi pousar na praia um avião dirigido por um célebre piloto da época, o Melo Maluco -que mais tarde veio a ser ministro no governo de JK, com o nome de Francisco Correia de Melo.
Saí gritando, quase fui atropelado na pista. O pai salvou-me de um caminhão que distribuía a água mineral Salutaris.
Com um grito, inaugurei a minha fase oral -não podia esperar muita coisa de mim mesmo.
O primo Jair descobriu que uma pedra de gelo era mais barata em Niterói. No aniversário do tio Augusto, foi lá, voltou com uma sacola cheia de água suja e gelada. Culpou o calor que fazia na velha barca da Cantareira & Viação Ltda..
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