O ESTADÃO - 15/03/12
Os números do Produto Interno Bruto (PIB) apresentados recentemente mostraram mais uma vez de forma irrefutável o peso do setor industrial no andamento da economia. Um recuo da atividade da indústria nos últimos meses do ano freou fortemente o crescimento geral do País e acendeu a luz amarela nos gabinetes de governo. Mais do que uma redução do PIB em si,os dados do IBGE mostram uma perda de qualidade e aumento da vulnerabilidade da economia brasileira, cada vez mais voltada para serviços e consumo.
As abordagens tradicionais de incentivo, que recaem sobre desonerações ou subsídios específicos para determinados setores e redução de juros, são medidas que podem trazer algum resultado.
Mas não passam de paliativos e mascaram a necessidade de uma política industrial que recupere a competitividade da indústria nacional no longo prazo.
Essa política precisa, necessariamente, contemplar a redução das distorções que oneram a produção nacional,como o alto custo da energia, seja a elétrica ou o gás natural.Estudos recentes da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de energia e de Consumidores Livres (Abrace) comprovam a importância de atacar esses temas:cada R$ 1 a menos pago pela energia se refletiria em R$ 8,6 a mais no PIB brasileiro.
A Agência Internacional de energia diz que estamos no início da idade de ouro do gás natural, que trará consigo uma mudança no mapa da economia e da geopolítica global. Isso significa que as reservas brasileiras do insumo, associado ou não ao petróleo, podem potencializar uma nova fase do desenvolvimento nacional. Se demorarmos a perceber essa realidade, corre-se o risco de perder a oportunidade de fortalecer a economia e gerar empregos.
Os EUA já vivem uma nova ordem econômica em razão da abundância do gás não convencional (principalmente o gás de xisto, ou shale gas), que fez os preços caírem drasticamente e está incentivando a produção local.Os americanos pagam hoje pouco mais de US$3 por milhão de BTU(unidade que mede o gás). No Brasil esse valor chega a ultrapassar US$ 16.Os efeitos começam a ser percebidos:enquanto a indústria química americana se recupera e a de alumínio é ressuscitada, as empresas brasileiras desses segmentos interromperam investimentos em expansão e algumas penam para não fechar as portas, levando consigo cadeias produtivas inteiras.
Obviamente, a situação dos EUA é um extremo neste momento,pois o gás de xisto já está sendo explorado. Mas, mesmos e comparado aos demais Brics, o Brasil é hoje quem paga mais para consumirgás.
Além disso,há grande incerteza em relação aos desembolsos nos próximos anos, pois a maioria dos consumidores ainda não tem informações sobre a renovação dos contratos firmados entre as distribuidoras e a Petrobrás, que se encerram até o fim de 2012.
Também não existem expectativas reais quanto ao funcionamento do mercado livre de gás, já antecipado pela legislação setorial. Com relação a esse ponto, aliás, vale observar que, mesmo em energia elétrica,que é um setor mais maduro,não atingimos o patamar de eficiência e sustentabilidade necessário.
Há de se reconhecer que diversas esferas do governo federal começam a perceber que a energia é muito mais do que uma cadeia que se fecha em si,em torno de geração ou exploração, transmissão ou transporte e Distribuição.O Ministério de Minas e energia, por exemplo,estuda, com os Ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento, alternativas para restabelecer a competitividade da indústria de alumínio.
No cenário global de crise, o Brasil tem condições únicas para continuar galgando postos entre os maiores PIBs do mundo.O compromisso com a melhoria da governança da administração pública,apoiado por grandes lideranças empresariais, certamente coloca o País no rumo certo para o salto no desenvolvimento com qualidade. Mas é importante que a energia seja incorporada nessa agenda como alternativa capaz de produzir resultados num prazo curto.A simples redução de distorções posicionaria melhor o País no parâmetro global de competitividade.
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