quarta-feira, fevereiro 29, 2012

Sinergia com os EUA - HENRIQUE REZEZINSKI

 O GLOBO - 29/02/12



A maior relevância do Brasil em questões importantes da agenda internacional pode ajudar a estabelecer uma parceria estratégica entre as duas potências das Américas. O Brasil, por exemplo, tornou- se uma potência na produção de biocombustíveis. Juntos, o país e os EUA produzem quase 70% do etanol mundial - e tudo indica que os dois podem desempenhar papéis centrais no desenvolvimento desse setor e dos mercados afins em escala global.

Com relação às formas tradicionais e ainda proeminentes de energia, o Brasil é destaque atualmente por suas enormes reservas de petróleo e gás natural. Nem todas as informações estão disponíveis para determinar o real valor econômico dessas reservas, mas o Brasil está pronto para se tornar, possivelmente, um exportador importante.

Na agricultura, o país é uma potência global incontestável. É o maior exportador mundial de açúcar, suco de laranja, carne bovina, aves, tabaco e café; o segundo maior exportador de soja e alimentos à base de soja; e o quarto maior exportador de milho e carne de porco. A mineração é outra área em que o Brasil é uma potência.

De acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), o Brasil está entre os países com as maiores reservas mundiais de diversos minerais e é também líder em exportação.

É importante lembrar que muitos minerais têm papel fundamental em diversas tecnologias e produtos industriais.

Os EUA dependem 100% da importação de determinados minerais, como bauxita, grafite, nióbio e tântalo, dos quais o Brasil é fornecedor.

Por fim, talvez um dos setores de maior sinergia estratégica seja o aeronáutico.

Esta é uma nova área a ser explorada, à medida que o Brasil se torna um dos quatro maiores produtores de aviões comerciais do mundo, com importantes potenciais desdobramentos geopolíticos. O setor aeronáutico, tanto civil como militar, merece especial destaque, pois apresenta notável potencial de cooperação estratégica entre os dois países na área industrial, em tecnologia de ponta e defesa hemisférica.

Outra indicação das novas tendências é o Brasil ter se tornado rapidamente um importante detentor de títulos do Tesouro dos EUA e protagonista das discussões globais. Em maio de 2011, o país possuía US$ 211,4 bilhões em títulos do Tesouro, valor que representa um aumento de 30,89% em um ano e mantém o Brasil como quinto maior credor externo dos Estados Unidos - atrás apenas de China, Japão, Reino Unido e um grupo de países exportadores de petróleo.

A visita da presidente Dilma Rousseff aos Estados Unidos nas próximas semanas se consubstancia, portanto, numa grande oportunidade de levar ao presidente Barack Obama uma proposta de uma agenda de trabalho abrangente, desde os tópicos comerciais até os delicados assuntos políticos, condizente com a posição de protagonista do Brasil na Agenda de Governança Global. Essa visão tem a virtude de colocar para os nossos interlocutores americanos a mensagem do Brasil de que tanto os temas bilaterais quanto os multilaterais, com a sua dimensão bilateral, devem ser vistos de forma integrada numa agenda que permita estabelecer uma parceria estratégica de dimensões globais. Esta abrangeria assuntos de comércio e investimentos (tratado de bitributação, acordo de investimento e acordo de livre comércio), energia (renováveis e não renováveis), governança global (Conselho de Segurança, FMI, Banco Mundial e OMC), desenvolvimento sustentável e mudanças climáticas e segurança hemisférica (aviação civil e militar).

Temos uma grande oportunidade de negociar, de forma soberana, uma parceria estratégica que seja ganhadora para ambos os países e que posicione o Brasil cada vez mais no centro da governança global. Independentemente da importância de outras parcerias estratégicas, é fundamentalmente na relação Brasil-Estados Unidos que se estabelecerão os principais alicerces do protagonismo do Brasil na governança global.

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