FOLHA DE SP - 01/02/12
Pela remessa de lucros, Leonel Brizola (contra) e Carlos Lacerda (a favor) ameaçavam ir às jugulares. Nos meus 14 anos, eu me sentia dividido. Por um lado, tinha fumaças de esquerda e torcia pelos nacionalistas; por outro, perguntava-me como Hollywood se arranjaria sem os meus caraminguás na bilheteria -somente "West Side Story" eu vira nove vezes naquele ano.
Bem, passaram-se décadas, e leio que, em 2011, as filiais brasileiras das multinacionais mandaram US$ 38 bilhões para o exterior -a maior remessa de lucros dos últimos 64 anos. Não deve ter sangrado cruelmente a nossa economia, porque o Brasil parece podre de rico -nem o governo do PT permitiria tal sangramento, não?
Ao mesmo tempo, nunca tantos brasileiros gastaram tanto lá fora como em 2011, em bagulhos eletrônicos, camisetas do Mickey e cachorro-quente -US$ 21 bilhões, o triplo do que os gringos deixaram aqui. Some a isto (ou subtraia) o volume de dinheiro -menor do que nunca- que os imigrantes brasileiros mandaram do exterior, e as remessas -cada vez maiores- que os estrangeiros aqui residentes enviaram para seus países.
Não faz diferença, o Brasil virou mesmo uma potência. Se a remessa de lucros deixou de ter importância, fico me perguntando se Brizola e Lacerda brigariam tanto se ainda estivessem entre nós.
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