FOLHA DE SP - 20/02/12
BRASÍLIA - A queda contínua dos juros, pela qual Guido Mantega tanto batalhou, paradoxalmente colocou o ministro contra as cordas.
Ao pactuar com o BC uma nova política monetária, o titular da Fazenda se firmou como figura de destaque no governo Dilma. Algo inédito para quem passou a era Lula relegado ao segundo plano mesmo em lances agudos da economia.
Essa guinada causou ciúmes e fez de Mantega um alvo. Daí para as denúncias foi um pulo. Não é coincidência que as fraudes na Casa da Moeda tenham vindo à tona agora.
Para piorar, o ministro tem dificuldades em lidar com os holofotes. Só o veio sádico de Dilma explica a ordem para que comentasse em público o escândalo na Casa da Moeda. Ele, claro, se atrapalhou. Admitiu ter nomeado o suspeito de corrupção, mas alegou que a escolha fora de terceiros. Usou a fisiologia como peça de defesa, credo.
Outro efeito do declínio dos juros é um racha programático na Fazenda. Alguns querem aproveitar o embalo e abrir a torneira do gasto público para aquecer a economia.
Mantega, que, devido ao risco inflacionário, prefere uma inversão mais suave, vê-se acossado até pelo principal auxiliar. Não à toa, Nelson Barbosa deixou de ser chamado para reuniões com o ministro.
Ainda mais deteriorado está o clima nos bancos públicos. Seus bilionários fundos de pensão precisam realocar os investimentos, já que a renda fixa vem perdendo apelo. Alas pró-Mantega e anti-Mantega se digladiam pelo poder de escolher novos negócios (ou negociatas).
E há o dilema da poupança. O tombo da Selic vai torná-la atrativa a um ponto quase insustentável. O governo pode diminuir a remuneração da caderneta ou ficar parado, forçando os bancos a estimular as outras aplicações (via redução das taxas de administração). Nessa guerra por uma decisão de bilhões de reais, quanto vale um ministro?
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