FOLHA DE SP - 16/01/12
O limite de 1.200 vistos anuais de trabalho, dizem as autoridades federais, não configura restrição. Seria na verdade "uma abertura, em caráter excepcional". Tudo isso, claro, feito "em defesa dos direitos humanos".
O cinismo é uma das marcas da política externa de nações cujo peso específico faz diferença no concerto global. Não é fácil harmonizar medidas que respondem a interesses imiscíveis, às vezes conflitantes.
O Brasil de hoje poderia abrigar, se quisesse, todos os trabalhadores haitianos desejosos de emigrar. A população brasileira economicamente ativa é da ordem de 100 milhões -dez vezes o número total de habitantes do país caribenho-, e a perspectiva de expansão de vagas, em especial para postos de baixa qualificação, é firme ao longo dos próximos anos.
É preciso, porém, temperar o interesse empresarial doméstico -afinal, a oferta de mão de obra estrangeira inibe o aumento dos salários e dos custos de produção- com outros fatores igualmente atuantes. Um deles é o compromisso direto do Brasil com a recuperação econômica do Haiti. Se escancaramos a fronteira aqui, sabotamos os esforços feitos lá.
Outro limitador, bem mais importante, é de ordem política e social. Aceitar fluxos gigantescos de imigração não é esta festa toda preconizada por progressistas e liberais de livro-texto. A opção acarreta impactos locais, da miséria à insegurança urbana, muito difíceis de mitigar.
Implanta, além disso, a semente da intolerância ao estrangeiro mesmo em sociedades tidas por pacíficas e hospitaleiras. Para ela brotar, basta que se inverta o ciclo econômico, acirrando-se a disputa pelo emprego.
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