O professor Carlos Arruda, da Fundação Dom Cabral, que coordena no Brasil dois importantes estudos internacionais sobre competitividade: do Fórum Econômico Mundial e da escola de administração suíça IMD, lembra que o país teve perda importante no ranking de competitividade em 2011, fator que vai fazer a diferença no enfrentamento das turbulências no ano que vem. Problemas estruturais como a falta de infraestrutura, a burocracia, a carga tributária alta e a corrupção jogaram contra o país.
Aumentar a competitividade é condição indispensável para o Brasil manter-se na disputa internacional e até fazer gols em uma conjuntura de crise. Nesse sentido, o professor Arruda considera que o país tem muito a aprender com os chineses. Eles têm visão de longo prazo, investem fortemente em tecnologia e inovação, em infraestrutura, em formação e qualificação profissional. E vão fundo quando se trata de conhecer um parceiro em potencial. É assim que agem em relação ao Brasil.
— O país deveria olhar a China não como um concorrente, mas como parceiro — recomenda.
O Brasil tem um enorme mercado consumidor, que se tornou objeto do desejo dos países asiáticos, em razão de seus excedentes de produção. A China tem produtos em excesso e capital para investir.
— Por que então não deixar os chineses instalarem aqui suas fábricas e exigir como contrapartida investimentos em infraestrutura, por exemplo? — sugere o economista.
No Brasil, as contrapartidas exigidas pelo governo estão relacionadas à geração de emprego. Na China, à pesquisa e inovação. Mostra que o olhar da China é sempre de longo prazo.
Arruda avalia que a questão da competitividade entrou na agenda do governo, mas as ações são lentas e insuficientes. Um exemplo são os incentivos recentes ao setor têxtil focados apenas no emprego, quando esse segmento da indústria poderia aproveitar a oferta de bens de capital mais baratos para investir em máquinas e equipamento e melhorar a competitividade.
Mesmo barco
Nenhum país ficará imune a um agravamento da crise na zona do euro. Isso vale para o Brasil e para os demais da América Latina, porque a região tem problemas comuns: excessiva dependência das exportações de matérias-primas para a China, falta de infraestrutura, desigualdade, corrupção e baixa escolaridade. Mas, na visão de analistas, o impacto de uma piora no cenário internacional será diferenciado na região, porque alguns países estão mais preparados para enfrentar as turbulências e outros menos.
Atrativo
O economista venezuelano Pedro Palma prevê queda no crescimento e nas exportações, pressões inflacionárias e fuga de capitais da região, se a crise na Europa piorar, mas ressalva: "A sólida posição econômica que se tem hoje em boa parte da América Latina poderia minimizar esses efeitos negativos e, inclusive, ser um atrativo para os investidores europeus que estão em busca de oportunidades em outras economias".
Em alta
Chile, Colômbia e Peru, que fizeram o dever de casa, estão mais fortes para enfrentar as turbulências.
— Os países com grau de investimento e com uma sólida situação fiscal são os mais bem preparados — destaca o economista argentino Fausto Spotorno, da consultoria Orlando Ferreres.
A Colômbia avança nas reformas, o Chile é o mais desenvolvido da América Latina e segue com políticas adequadas.
— Lá a política fiscal tem mecanismos de autoequilíbrio. Em anos de pujança fiscal se faz poupança para usar em anos de crise. Por aqui não temos nada parecido, pelo contrário — destaca o economista Sérgio Vale, da MB Associados.
Em baixa
As economias mais afetadas seriam aquelas pouco diversificadas e mais dependentes das exportações de commodities, como é o caso da Venezuela. A Argentina, o Equador, a Bolívia e a Venezuela tendem a acelerar seus desajustes, na visão do analista. "A discrepância de modelos dentro do continente deve aumentar, com o Brasil ficando no meio do caminho", prevê Sérgio Vale.
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