O nível de atividade no país dá sinais de desaceleração; temos boa oportunidade para reduzir restrições ao crédito e cortar mais agressivamente os juros
Não resiste à lógica a avaliação de alguns analistas de que o início de um ciclo de redução da taxa Selic signifique uma ruptura das autoridades monetárias com as metas da inflação. A nova posição deve-se às projeções do impacto doméstico da crise fiscal no hemisfério Norte, inclusive no tocante às exportações brasileiras, considerando a retração dos mercados internacionais.
É importante destacar que o nível de atividade no Brasil já vem mostrando sinais de desaceleração, reflexo das medidas de controle de crédito, aumento da taxa de juros e contenção das despesas públicas implementadas ao longo do ano.
Uma gama ampla de indicadores mostra que a desaceleração não se resume apenas à indústria, que, por sinal, há 18 meses vem registrando desempenho anêmico.
A produção manufatureira apresentou queda de 2% na passagem de agosto para setembro. Encerrou o terceiro trimestre com recuo de 0,8% ante o segundo, quando registrou redução de 0,6%. A retração observada no terceiro trimestre é a maior desde o primeiro trimestre de 2009, quando foi de 6,6%.
Já o comércio varejista, que vinha mostrando vigor, apresentou contração de 0,7% no terceiro trimestre em relação ao segundo. O decepcionante desempenho do Dia da Criança já provocou uma revisão para baixo das expectativas de venda para o fim deste ano.
Por fim, o mercado de trabalho e o crédito acumulam sinais de arrefecimento. Portanto, ao reduzir a taxa de juros, a autoridade monetária tenta mitigar os impactos negativos da deterioração do quadro internacional sobre o crescimento econômico brasileiro. Mas isso não significa que "jogou a toalha" com relação ao objetivo de trazer a inflação para a meta de 4,5% em 2012.
Pelo contrário, na última ata do Copom, o Banco Central explicitou que, no cenário com que trabalha, a taxa de inflação posiciona-se em torno da meta em 2012.
Essa análise ancora-se na hipótese de que a atual deterioração do quadro internacional deve causar um impacto sobre a economia brasileira equivalente a um quarto do observado durante a crise de 2008/2009. Além disso, o Copom supõe que a atual situação do cenário internacional seja mais persistente do que a verificada em 2008/2009, porém menos aguda.
Em resposta à piora do desempenho econômico mundial e doméstico, nos próximos meses, as expectativas de mercado para a inflação em 2012 deverão convergir para o cenário delineado pelo Banco Central. Além disso, é importante frisar que a redução da taxa de juros implicará economia adicional para os cofres públicos.
Cada ponto percentual da taxa Selic equivale a R$ 17 bilhões em gastos públicos adicionais. Por outro lado, o governo despenderá neste ano mais de R$ 240 bilhões com juros, enquanto a saúde recebe apenas R$ 70 bilhões e a educação, menos de R$ 60 bilhões.
A situação é grave e não há riscos inflacionários. Estamos, sim, diante de excelente oportunidade para remoção das restrições de crédito e para um corte mais agressivo na taxa de juros.
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