Polícia e civilização
HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 02/11/11
SÃO PAULO - Alunos da USP ocuparam um prédio administrativo com o objetivo de forçar a polícia a não atuar mais no campus. Ou eles são jovens e não sabem o que fazem, ou estamos diante de um movimento profundamente reacionário.
Uma das melhores coisas que aconteceram à humanidade foi a criação da polícia. Como mostra Steven Pinker em seu novo livro sobre a violência, o surgimento de Estados fortes na Europa do século 16, com suas milícias e o monopólio do uso da força, fez com que as taxas de homicídio ficassem de 10 a 50 vezes menores.
A provável origem da confusão da garotada é que, vencida essa fase, o principal perpetrador de violência deixou de ser a rivalidade entre clãs e bandos rivais para tornar-se o próprio Estado, que não raro se punha a perseguir, a torturar e a executar cidadãos por motivos às vezes tão banais como abraçar uma religião minoritária, fazer oposição política ou apenas ser diferente.
Precisamos avançar mais na marcha civilizacional, mas seria um contrassenso tentar fazê-lo revertendo nossos principais acertos.
O caminho é educar os agentes da lei e a própria sociedade, o que, como sugere Pinker, vem ocorrendo paulatinamente por meio de novas visões de mundo que acabam sendo incorporadas ao "Zeitgeist", o espírito da época. Dois exemplos eloquentes são o Iluminismo do século 18, que está na origem da democracia e da abolição da escravatura, e a era dos direitos, que, desde 1948, alimenta o feminismo, a igualdade racial etc.
Em resumo, o Estado é nosso amigo, ainda que tenhamos que mantê-lo sob vigilância para eliminar-lhe toda e qualquer recaída despótica.
Nesse contexto, seria bom que os policiais que operam no campus fizessem vista grossa para quem fuma maconha. É verdade que, em teoria, eles não têm escolha que não seguir a lei, mas a melhor receita para criar o pior dos mundos é aplicar com máximo zelo todas as normas vigentes.
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