Na banca de jornais
UGO GIORGETTI
O Estado de S.Paulo - 30/10/11
Na banca de jornais, descubro que ainda existem álbuns de figurinhas. Sim, como os de antigamente, com os times e as fotos dos jogadores. Me diz o jornaleiro que vendem muito bem e me dá um para folhear. Muito bonitos, modernos, bem impressos, muito diferentes dos álbuns de quando era criança, com fotos tremidas e fora de foco, onde mal se distinguiam as cores da camisas, sempre pálidas, um pouco descoradas.
Folheando as páginas do belo álbum atual notei uma desvantagem crucial em relação aos velhos. Com a frequente mudança de jogadores de um time para outro, as escalações são obsoletas, e o que tem aspecto moderno e atual vira rapidamente coisa do passado. Antigamente, a integridade dos times, e do álbum, era mais preservada. Só havia mudança por encerramento da carreira, prisão ou morte. O novo álbum, porém, tenta ser prudente e, pelo menos, omite o nome dos treinadores.
Descubro que atualmente não há prêmios para quem completa o álbum. Também não há figurinhas difíceis, nem "carimbadas'', expedientes usados pelos antigos para dificultar o preenchimento dos álbuns. Naquela época havia prêmios: bolas (oficiais, n.º 5), máquinas fotográficas e bicicletas. O álbum se chamava "Balas Futebol'', porque as figurinhas chegavam embrulhadas junto com uma bala e era comum garotos andando lentamente pelas calçadas, cabeça baixa, revirando nas mãos as figurinhas que tinham acabado de abrir, com a boca entupida por umas dez balas. Receio que o futebol tenha causado uma profusão de cáries e mesmo futuras dentaduras em toda uma geração.
Na época, se colecionava com a finalidade de ganhar o prêmio. E hoje, qual seria a razão de se colecionar figurinhas? Qual seria o prazer de apenas comprar fotografias e colá-las num álbum sem qualquer outra recompensa? Será que, apesar de tudo o que se fala sobre o império do dinheiro nos tempos atuais, éramos mais interesseiros? Será que no fundo somos os mesmos de sempre?
Há um engano, a meu ver enorme, nessa celeuma toda em relação ao Ministério do Esporte. O problema é que esse ministério está envolvido em coisas que não lhe dizem respeito. Desde quando futebol é esporte? Talvez tenha sido um dia. Mas faz tempo que futebol, e também olimpíadas, são negócios, dinheiro. Esses eventos deveriam ser conduzidos por outros ministérios, por homens acostumados ao jogo dos grandes dinheiros, a todos os truques, aos estratagemas que nem sonhamos, pobres mortais.
É a eles que a Copa do Mundo deveria ser confiada. Esses jamais seriam pegos em escorregões de principiantes, deixando pegadas e rastros de uma ingenuidade espantosa. Ao Ministério do Esporte deveriam ser atribuídas tarefas de acordo com a importância que sempre teve ao longo de décadas e décadas, isto é, nenhuma. Nunca houve qualquer política de esportes neste País e, no entanto, sem que sequer soubessem tocar seu miúdo dia a dia habitual, deram a esse ministério a tarefa de cuidar da Copa. Tudo por vergonha de olhar o esporte como é hoje: um negócio como qualquer outro. Aqui no Brasil, o maior de todos. A crise internacional é problema da Europa e dos EUA, nós temos coisa mais séria a fazer.
Leão de volta. Outro dia tive o prazer de acompanhar uma entrevista sua pela televisão. Não lembro sobre o que era, nem ouvi com cuidado o que disse. Mas me chamou a atenção o lugar. Uma espécie de estúdio, ou galeria, com quadros colocados estrategicamente atrás do antigo goleiro. Era pintura contemporânea, facilmente identificável. Daí lembrei que alguém me disse que Leão se dedica já há algum tempo a colecionar arte, parece que pintura em particular. E pintura contemporânea. Lembrei também que um jornalista me havia dito que um dia topou com Leão numa famosa galeria. Propôs uma rápida entrevista, que foi concedida gentilmente. Ao afastar-se, depois da entrevista, o jornalista me disse que ainda ouviu Leão comentando com alguém ao seu lado: "Você viu a diferença entre um jornalista da área de cultura e aquele pessoal do esporte?''
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