domingo, outubro 30, 2011

PEDRO TRENGROUSE - A Copa do Brasil



A Copa do Brasil
PEDRO TRENGROUSE
O GLOBO - 30/10/11

A agenda da Fifa para a Copa do Mundo de 2014 não é necessariamente a agenda do Brasil. Não se pode permitir que a Copa se resuma a intervenções na infraestrutura dos estádios, ampliação e melhora da malha de transportes, um salto de qualidade e quantidade na rede hoteleira, investimentos eficientes em segurança pública e, é claro, uma seleção de jogadores competitiva.
O verdadeiro desafio é aproveitar a Copa como instrumento para o desenvolvimento do futebol brasileiro, que é parte significativa do arranjo produtivo nacional e, se mais bem administrado, pode gerar empregos, renda e alegria.
Estudo da FGV aponta que o futebol movimenta mais de R$11 bilhões por ano, representando 0,2% do PIB. Estima-se que os 783 clubes de futebol profissional gerem mais de 400 mil empregos, com renda induzida de R$5,7 bilhões e R$1,1 bilhão em impostos sobre a produção. A importância do setor no PIB pode crescer substancialmente se os clubes melhorarem sua administração, só que para isso é preciso mudança profunda nas estruturas de governança, e o momento nunca foi tão favorável.
A modernização dos estádios, o capital humano qualificado que ficará como legado da Copa e a oportunidade de ajustar o calendário são externalidades muito positivas para a promoção das transformações necessárias à maximização dos resultados econômicos do futebol brasileiro, em especial à melhora do modelo de gestão e governança com auditorias independentes, conselhos fiscais capazes de exercer suas funções técnicas, códigos de conduta para dirigentes, atletas e funcionários, prevenção de conflitos de interesse, conselhos de administração enxutos, profissionalização da gestão, capacitação do quadro funcional, sistematização de normas, sistemas de qualidade e de gestão e incentivos de performance.
Não basta apenas que os clubes sejam muito bem administrados sem que também haja ajustes em todo o ecossistema do futebol brasileiro. No futebol é a concorrência que dá origem a praticamente todas as receitas, e por isso o calendário otimizado é fundamental para o desempenho econômico dos clubes.
Hoje, os clubes que disputam a Série A do Campeonato Brasileiro, uma competição internacional, Libertadores ou Sul-Americana, um campeonato regional de grande número de datas e a Copa do Brasil podem chegar a 75 partidas por ano. Por outro lado, para a grande maioria dos clubes de menor investimento a temporada se limita ao campeonato estadual, que normalmente se inicia em janeiro ou fevereiro e se encerra em abril ou maio. Essa baixa atividade na base da pirâmide representa uma perda de receitas da ordem de R$600 milhões por ano e 25.000 empregos.
Está na hora de mudar, e a Copa do Mundo não pode deixar o futebol brasileiro pra trás.
PEDRO TRENGROUSE é advogado, consultor da ONU/PNUD para a Copa 2014 e coordenador de Projetos da Fundação Getulio Vargas.

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