Inovar para competir
ROBERTO RODRIGUES
FOLHA DE SP - 22/10/11
Cada pesquisador do nosso agro merece uma medalha. Hoje, competimos com produtores do mundo todo
Tenho insistido muito neste espaço em valorizar a tecnologia como principal fator responsável pelo extraordinário salto da produtividade e da competitividade sustentável da agropecuária brasileira.
E é mundialmente reconhecido o papel da EMBRAPA nesse processo. De fato, essa notável instituição ainda é muito jovem -nem completou 40 anos- para os avanços obtidos -a conquista do cerrado se insere no rol dos mais relevantes. Com efeito, até a década de 1970 os produtores rurais diziam: "Cerrado, só dado ou herdado!".
Eles sabiam como era fraca a terra de lá e, muito antes da EMBRAPA, o Instituto Agronômico de Campinas, a Esalq de Piracicaba e instituições de pesquisa paulistas e de outros Estados vinham estudando formas de domar aquela natureza hostil à agricultura.
Mas, vitimada pelo célebre erro de Pero Vaz de Caminha ("Nesta terra, em se plantando tudo dá"), a sociedade em geral acha que a maior moleza no Brasil é ser agricultor. Não é. Nunca foi.
É verdade que as chamadas terras roxas de Ribeirão Preto, de Jaú e do norte do Paraná ou o massapé de Campinas e de Piracicaba vinham sendo cultivados com grande êxito graças aos trabalhos de pesquisa e extensão rural de órgãos públicos paulistas.
Mas o solo do cerrado, essa imensa área que representa a nossa maior fronteira agrícola, é o tal latossolo, com coloração que vai do vermelho ao amarelo, profundo, bem drenado, muito pobre em nutrientes essenciais (cálcio, magnésio, potássio) e matéria orgânica, tem grande acidez e toxidez por alumínio, de modo que, sem tecnologia adequada e corretivos e fertilizantes, não produz nada!
Bem diferente, por exemplo, do pampa argentino, planícies férteis conhecidas como os melhores solos do mundo, que precisam de menos da metade dos adubos de que precisamos.
Por outro lado, grande parte do nosso cerrado, da metade do Centro-Oeste para cima, tem um clima chamado de tropical sazonal, que se caracteriza por um limitado período de chuvas durante o verão e um inverno sequíssimo, que não permite duas culturas anuais.
Pois foram essas dificuldades naturais aparentemente insuperáveis que nossos cientistas venceram, trazendo para cá tecnologias desenvolvidas em países do hemisfério Norte e tropicalizando-as, seja com variedades adaptadas à nossa edafoclimatologia, seja com tratos culturais modificados, seja com fertilização diferente e até com a irrigação apropriada. Os solos drenados do cerrado não retêm a umidade, de modo que secam rapidamente. E sua acidez inibe qualquer cultivo.
Tudo isso foi enfrentado e dominado pela tecnologia. Cada pesquisador do nosso agro merece uma medalha!
Hoje, competimos com produtores do mundo todo, e, mesmo com o pesado custo Brasil, avançamos no mercado internacional. Só em relação às exportações, saímos de US$ 21 bilhões em 2000 para mais de US$ 74 bilhões no ano passado. E com um saldo muito maior que o saldo do país todo, salvando com isso até nossas reservas em dólares.
E novas tecnologias vêm chegando: a integração lavoura-pecuária, verdadeira revolução tropical, por exemplo, permite em toda região de inverno seco duas culturas anuais: grãos e carnes. Um verdadeiro ovo de Colombo.
A biotecnologia, a nanotecnologia, as novas máquinas agrícolas que reduzem perdas, os defensivos com moléculas muito menos agressivas, as sementes mais resistentes e rústicas, a irrigação, as biorrefinarias e um sem-número de outros temas que nos colocam na vanguarda do conhecimento científico no agro são garantia de contínua competitividade com sustentabilidade, mesmo se se confirmarem as previsões mais pessimistas quanto ao aquecimento global: a gente se adaptará!
Por isso, é absolutamente fundamental oferecer aos nossos institutos de pesquisa -IAC, IB, IZ, Pesca, Universidades, EMBRAPA- e de extensão -a Cati- os recursos indispensáveis para continuarem servindo ao país.
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