segunda-feira, outubro 24, 2011

GEORGE VIDOR - Torcida contra


Torcida contra
GEORGE VIDOR 
O GLOBO - 24/10/11

O corte de meio ponto percentual nas taxas básicas de juros ajudou a esfriar a crítica em relação à atual diretoria do Banco Central. Publicamente, a crítica passou a ser mais comedida, depois de enveredar por um caminho deselegante de desqualificar a argumentação usada pelo BC para respaldar suas decisões. Chegou-se a falar que o Copom cortaria os juros em 1 ponto...
É bem provável que em 2012 a economia brasileira seja mais puxada por investimentos do que pelo consumo. Como o consumo responde por cerca de 80% da procura por bens e serviços, mesmo um crescimento mais moderado desse segmento (tratando-se das famílias, especialmente, que participam com 60%) contribui para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) como um todo. Os investimentos devem continuar acelerados, porém, contribuindo com 20% da demanda, não fazem o PIB variar muito no curto prazo. No entanto, os investimentos é que impulsionam os bons empregos, o que, por sua vez, melhora os padrões de consumo.
Por motivos ainda não totalmente claros, quando a taxa básica anual passa de 12% esse processo começa a ser abortado. Por isso, não dá mais para segurar os juros acima desse patamar.
Até dezembro, o porto de Suape contará com três estaleiros. O EAS, já em funcionamento (e com obras de expansão), o vizinho Promar, também em andamento, e um terceiro que está com obras programadas para o fim do ano. Um quarto estaleiro, italiano, de pequeno porte, está em fase final de negociações com o governo de Pernambuco. Existem mais seis na lista, diz Silvio Leimig, diretor do projeto Suape Global.
Com isso, Pernambuco deve se firmar como um dos três grandes polos de construção naval do país (os outros dois ficam no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul).
Semana passada visitei a região de Suape. Há tantos canteiros de obras que ouso escrever que aquilo se parece hoje com uma pequena China. Cerca de 60 mil pessoas estão trabalhando no complexo industrial de Suape, sendo 30 mil nas obras da Refinaria Abreu e Lima e dez mil na implantação da Petroquímica Suape, ambas da Petrobras.
Meu anfitrião, Marcelino Guedes (que preside a refinaria nessa fase de obras), tinha razão ao dizer que só indo lá para se perceber a dimensão do projeto (uma imagem vale por mil palavras...). E como se trata de uma região ainda muito carente de infraestrutura, a Petrobras tem financiado a duplicação e asfaltamento de estradas de acesso, pontes e viadutos. Pelo lado social, financia escolas profissionalizantes e de ensino fundamental. E até um estádio poliesportivo em Ipojuca.
Como uma "pequena China", a efervescência dos canteiros de obras contrasta com o passivo social local. A pobreza endêmica da região, que antes dependia apenas da cana-de-açúcar (e um pouco do turismo, de Porto de Galinhas), é ainda terreno fértil para movimentos de ocupação de terras. Só que agora não mais de propriedades rurais, mas sim de terrenos urbanos, colados à sede do município, de preferência no trajeto dos turistas que se dirigem a Porto de Galinhas. Com esse volume de investimento na região, gerando milhares de empregos, fica difícil distinguir o oportunismo das reivindicações legítimas.
O porto de Suape é a âncora desses novos investimentos, que contam com incentivos fiscais federais (o abatimento no Imposto de Renda pode chegar a 80%) e estaduais. Mas isso já transbordou para o eixo que liga a região à capital, Recife. Impressiona ao visitante a quantidade de grandes áreas, ao longo da estrada (nos municípios de Ipojuca, Cabo de Santo Agostinho e Jaboatão dos Guararapes), em fase de terraplenagem. Há muitas obras de infraestrutura urbana também nessas cidades, embora caminhando mais devagar, o que é causa de engarrafamentos mesmo fora dos horários de pico.
Com a chegada da fábrica da Fiat ao município de Goiana, a expectativa é que essa movimentação se transfira em parte para os municípios do litoral norte pernambucano. Quanto à Refinaria Abreu e Lima propriamente dita, a obra atingirá seu pico em meados do ano que vem. São doze grandes contratos envolvendo as maiores empreiteiras do país, além de grandes fabricantes de equipamentos. Em 2013 a refinaria começará a funcionar, respondendo por 20% de todo o óleo diesel produzido no Brasil.
Como compensação financeira pelo impacto negativo da atividade de mineração (e o petróleo é um mineral em estado líquido), os royalties e as participações especiais perderam o sentido com a mudança de critérios aprovada semana passada no Senado. Viraram um imposto como qualquer outro. Sem a receita de royalties, os municípios que servem de base de apoio à indústria do petróleo acabarão pressionando as companhias do setor a investirem, elas mesmos, em infraestrutura local. Indiretamente, a mudança criou mais uma fonte de preocupação para os investidores, especialmente para os que estão chegando, pois confirma-se a tese de que no Brasil até o passado pode ser incerto.
O professor Felicíssimo Cardoso Neto - nos conhecemos no Colégio Pedro II, ele concluindo o clássico e eu ainda no ginásio - é craque em custos. Ensinou economistas, administradores e contadores a se preocupar com isso, em suas aulas na Fundação Getulio Vargas e na Universidade Candido Mendes. O professor (primo em segundo grau do presidente Fernando Henrique) aceitou o desafio de transpor esse conhecimento para o dia a dia das pessoas, publicando um livro com artigos curtos e conselhos práticos. Um dos subtítulos do livro: "Como guardar dinheiro sem ser pão-duro". A editora é a Universo dos Livros. Felicíssimo foi educado para seguir a carreira militar, como seu avô general e o pai. Mas em 1964 esses planos tiveram de ser mudados porque a família era adversária do regime militar. O exército perdeu um bom oficial em potencial, e a contabilidade é que saiu ganhando.

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