terça-feira, setembro 20, 2011

JANIO DE FREITAS - A marcha a ré


A marcha a ré
JANIO DE FREITAS 
FOLHA DE SP - 20/09/11


Ministros têm de justificar de forma mais convincente a alta do imposto cobrado para carros importados Protecionismo ao emprego e ao desenvolvimento tecnológico, como alegado, não é. Os ministros Guido Mantega, Miriam Belchior e outros que se ponham a justificar o acréscimo de imposto cobrado a carros importados têm a obrigação de fazê-lo de modo mais convincente.

Como feito agora, sujeitam o governo a suspeitas de motivações obscuras por conveniência, seja atribuída a relações externas ou a causas não mais citáveis do que aquelas.

Como razão inicial contra a precária justificativa, é de conhecimento geral, e de farta autoglorificação dos governos Lula e Dilma Rousseff, o crescimento admirável, nos últimos anos, da produção e venda de automóveis saídos de montadoras instaladas no Brasil.

O que se deu em paralelo ao crescimento da importação e do êxito comercial de automóveis estrangeiros.

Nas montadoras internas houve aumento do emprego. A importação também abriu empregos. Não surgiu indicação recente de tendência em sentido oposto.

Muito ao contrário, montadoras como a chinesa JAC e a japonesa Nissan, maior produtora e vendedora de carros do mundo, estão com projetos de instalar-se em São Paulo e no Rio para produção tão ou mais abrasileirada do que as já existentes. Mais empregos e mais atividade econômica, portanto.

O desenvolvimento tecnológico brasileiro em indústria automotiva é balela.

A tecnologia provém toda das matrizes, quando muito havendo, por aqui, uma ou outra adaptação que não merece o atributo de criação tecnológica. Por sinal, não consta que alguma delas seja para dar ao carro melhoria verdadeira.

Ao inverso do que sugerem as pobres justificativas de ministros para os novos impostos, a importação de modelos novos foi que forçou as montadoras aqui instaladas a tornar menos desatualizada a sua oferta aos consumidores brasileiros, como foi a tática adotada na maior parte da existência de "produção brasileira".

Também os números que estão nos computadores dos ministros Mantega, Belchior e outros lhes negam o necessário socorro.

Por eles se constata que, neste ano até agosto, as importações de apenas dois fornecedores de automóveis importados estão em equilíbrio, nos valores financeiros, com a soma de todos os demais.

O Brasil importou de Argentina e México o total de US$ 3,784 bilhões. De Coreia do Sul, Japão, Alemanha, Estados Unidos e todos os outros, importou US$ 3,568 bilhões.

Mas as importações feitas à Argentina e ao México, protegidas por acordos com o Brasil, não estão sujeitas à nova carga de impostos. A Argentina é o maior fornecedor e o México, o terceiro, ultrapassado pela Coreia do Sul que é, à primeira vista, a maior prejudicada pela sobretaxação.

Pressões internas contra a concorrência sujeita à imposição de aumentar os seus preços?

Pressão externa contra sul-coreanos e também, em futuro insinuado, japoneses e sobretudo chineses? Ou terceira e mais hipóteses, todas resultando na recusa à ligeira e não demonstrada justificativa do governo.

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