terça-feira, setembro 20, 2011

FERNANDO DE BARROS E SILVA - Justiça com a barrica


Justiça com a barrica
FERNANDO DE BARROS E SILVA
FOLHA DE SP - 20/09/11

SÃO PAULO - Não há o menor risco de que uma figura influente ou endinheirada seja condenada por crime de corrupção pela Justiça brasileira. Se esse medalhão for um político, tipo peixe graúdo, aí então a disposição do Judiciário para absolvê-lo será ampla, geral e irrestrita.

O aparato legal do país opera de maneira seletiva e distorcida: provê justiça de menos para o conjunto da sociedade, sobretudo para os mais pobres, e zela demais pela impunidade de quem está por cima da carne seca. Exagero retórico?

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) acaba de anular as provas colhidas pela Polícia Federal durante a Operação Boi Barrica, que investiga atividades suspeitas do empresário Fernando Sarney, filho do próprio.

É um repeteco do que o mesmo STJ já havia feito meses atrás, quando anulou as provas obtidas pela PF na Operação Castelo de Areia, investigação que envolvia a empreiteira Camargo Corrêa e dúzias de políticos.

Nos dois casos, os ministros do STJ consideraram que as escutas telefônicas -sempre autorizadas pela Justiça- não estavam suficientemente embasadas e, com isso, jogaram no lixo (ou varreram para debaixo do tapete) toda a sujeira revelada a partir delas. Não é trivial.

Em relação a Sarney, a investigação começou quando se detectou um saque em espécie no valor de R$ 2 milhões à véspera da campanha eleitoral de 2006. Roseana, sua irmã, era candidata. Depois disso, o empresário foi indiciado sob acusação de tráfico de influência, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Na prática, nada disso vale mais.

Não se trata de passar um cheque em branco à PF nem de desconhecer que ela comete, sim, abusos e também deve ser criticada por isso. Mas quem exorbita nesse episódio escandaloso? É a polícia? Ou é um Judiciário que afaga descaradamente investigados que possuem poder político ou econômico? Tem boi nessa linha. Ou melhor: tem barrica à mostra sob o manto da legalidade.

Nenhum comentário: