sábado, setembro 17, 2011

EDITORIAL - FOLHA DE SP - PMDB "delivery"

PMDB "delivery"
EDITORIAL 
 FOLHA DE SP - 17/09/11

Livros, pizzas, geladeiras, rações para animais domésticos: quase tudo, nos dias de hoje, pode ser encomendado por telefone ou pela internet e é entregue diretamente na residência do consumidor. Mas os serviços de "delivery", ao que tudo indica, não mais se limitam ao universo da gastronomia ou dos bens duráveis.

O modelo parece estender-se aos protocolos da política, e o Palácio do Planalto surge como um de seus usuários mais ativos. Não que ministros de Estado devam incluir-se, a esta altura, na categoria dos "bens duráveis": seu prazo de validade tem sido bastante curto no atual governo.

A comparação, entretanto, justifica-se a propósito da recente substituição na pasta do Turismo.

Na esteira de diversas irregularidades, reveladas pela Folha, demite-se o peemedebista Pedro Novais, para desgaste de seu principal patrocinador, o deputado Henrique Alves, líder do partido na Câmara. É substituído por outro peemedebista, o deputado Gastão Vieira. O parlamentar maranhense é considerado um "sarneyzista puro", enquanto seu antecessor não chegava a tanto.

Desconhecem-se outras qualificações, além do poderoso padrinho, a recomendar Vieira para essa pasta específica. Dizer que seu nome "foi escolhido" pela presidente Dilma Rousseff seria, na verdade, mais uma concessão vocabular ao cerimonial de Brasília que a descrição exata do processo.

Tudo parece ocorrer como se estivesse em curso uma encomenda expressa. O Ministério do Turismo, cuja principal utilidade é a de servir aos interesses fisiológicos do PMDB, precisava de urgente reposição; o partido a providenciou, "just in time".

Descobre-se, em seguida, que o novo ministro fora acerbo crítico do mensalão -o que não conta em seu desfavor, mas é sinal da típica flexibilidade dos representantes de seu partido aos ventos da circunstância. Navegar é preciso, dizia um peemedebista de outros tempos, Ulysses Guimarães.

O lema não seria inadequado a um Ministério do Turismo. Mas é lamentável que, exceto por essa vaga associação de ideias, não exista nenhuma inquirição prévia quanto às qualificações de cada indicado, na escolha para esse cargo de primeiro escalão -e de tantos outros submetidos, como sempre, ao sistema de pronta entrega das oligarquias partidárias.

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