Gaiolas abertas
RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 26/08/11
RIO DE JANEIRO - Outro dia, flanando pelo centro, atravessei a praça Tiradentes, sem grades, depois de anos cercada. É o primeiro passo da Prefeitura do Rio, apoiada por arquitetos e urbanistas, para libertar as praças cariocas -devolvê-las à cidade, como eram no passado.
Se a ausência de grades atrairá mendigos, drogados e assaltantes, só a prática dirá. Os antídotos contra essas mazelas são urbanismo, iluminação e policiamento -o que, afinal, toda municipalidade deve oferecer a qualquer via pública. Mas, além da ação que vem de cima, a atual reconquista do Rio pelo carioca está contando com a cabeça do cidadão. Ele se deu conta de que a paranoia preventiva, vigente há décadas, contribuiu para a satanização da cidade.
Com o fim das grades nas praças, cabe aos prédios particulares seguir o exemplo. Alguém ainda se lembra de como as grades se instituíram nos prédios do Rio nos anos 80 e 90? Não foi por causa de bandidos ou ladrões -e nem o Rio, mesmo na pior fase, sofreu particularmente com assaltos a residências. Foi por causa da população de rua, que, em certo momento, pareceu se multiplicar.
Para evitar que mendigos dormissem sob as marquises e junto às escadas e portarias, os primeiros edifícios se cercaram. Síndicos e porteiros viram nisso um filão. Alegando a violência, e em conluio com os fabricantes, começaram a impor as grades -contra a vontade de moradores sensatos, vencidos nas reuniões pelos condôminos mais impressionáveis. E assim, rapidinho, fomos nos engaiolando.
Bem, as coisas mudaram. Nos últimos anos, todos os índices de pobreza e insegurança no Rio vêm caindo. Por inércia ou má-fé, a máfia das grades continua -mas, quero crer, apenas por enquanto. Talvez já não seja tão fácil para um síndico, hoje, por mais cínico, cercar um prédio. Resta ao carioca libertar-se das jaulas que já plantou.
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