sexta-feira, agosto 26, 2011

GUSTAVO PATU - Ortodoxia de ocasião

Ortodoxia de ocasião
GUSTAVO PATU
FOLHA DE SP - 26/08/11 

BRASÍLIA - Nem Dilma Rousseff nem Guido Mantega são conhecidos pela fé nas virtudes redentoras da contenção do gasto público. E se o Planalto e a Fazenda não professam essa crença, não é o resto do governo que vai.
Mas a administração petista, desde Lula, é racional e pragmática. Sempre trata de produzir os resultados necessários -ou, ao menos, as expectativas de resultado- para evitar que a economia desande a ponto de ameaçar seu projeto de poder. Como agora.
Está em curso uma bem-sucedida combinação de aumento da receita e, em menor grau, de controle das despesas, cujo objetivo é combater o excesso de inflação nascido do excesso de gastos do ano eleitoral. Em contrapartida, há uma conspiração de eventos e humores para pôr fim ao purgatório do cumprimento pleno das metas fiscais.
Já está previsto em lei o maior reajuste do salário mínimo desde o pós-mensalão, em 2006; o último pacote de reajustes parcelados para os servidores públicos, de 2008, encerrará seus efeitos, e já há greves entre algumas categorias.
Há centenas de obras prioritárias em atraso, incluindo promessas de campanha, Copa e Olimpíada; há milhares de obras não prioritárias com as quais deputados e senadores pretendem atender suas bases nas eleições municipais.
O sinal mais evidente de que toda Brasília espera por mais gastos é a recente defesa, por Mantega, da preservação da austeridade, mesmo com a piora do cenário global ameaçando o crescimento doméstico. Admitir, agora, um relaxamento precipitaria uma corrida entre generosidades legislativas e executivas, enquanto ainda nem se sabe o efeito da crise na arrecadação.
Nessas horas, o discurso ortodoxo vem a calhar -em particular, a ressurreição da tese de que mais alguns anos de dura disciplina permitirão, finalmente, a derrubada dos juros. Afinal, quem precisa acreditar é quem escuta.

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