LUIS FERNANDO VERISSIMO - Outra carta da Dorinha
Outra carta da Dorinha
LUIS FERNANDO VERISSIMO
O GLOBO - 19/06/11
Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Sim, ela está viva. A notícia de que teria desaparecido durante uma lipoaspiração que não soubera onde parar foi um pouco exagerada, segundo suas próprias palavras. Dorinha, como se sabe, não revela a idade. Diz que não comemora mais seu aniversário “para não banalizar a data”. Só Deus e o Pitanguy sabem quantos anos ela tem e Dorinha confia na discrição dos dois. Sua carta veio, como sempre, escrita com tinta grená em papel violeta aromatizado com o perfume “Mange moi” – que, de acordo com a defesa do
Strauss-Kahn, era o que a camareira da Guiné estava usando naquela tarde.
“Caríssimo. Beijíssimos! Sim, sou eu, ou um fac-símile razoável. Acho que depois da última plástica sobrou muito pouco do original. Não, eu não estava morta, estava em Miami, que é pior. Na volta vim num avião com trezentas crianças, todas com chapéus do Mickey Mouse. Cada vez entendo menos as críticas a Herodes, claramente um injustiçado. Na praia conheci um surfista chamado Dwayne que gostou tanto dos meus seios que não tive coragem de dizer que nenhum dos dois era meu. Como você sabe, fui a primeira mulher a fazer ‘topless’ numa praia brasileira, embora não seja verdade que o padre Anchieta protestou. Dwayne e eu conversamos, apesar de ser difícil saber quando um americano está falando ou mascando chiclete mais alto, e marcamos um encontro mais tarde na minha cama. Onde nos conhecemos no sentido bíblico mas numa versão condensada, passando rapidamente de Atos a Apocalipse, pois descobri que o Dwayne se chamava Argemiro e era de Governador Valadares. E não queria ser pago em dólares mas em reais, que valem mais. No verão que vem, Praia de Ramos. Onde pelo menos quando você exclama ‘Jesus!’ não aparecem três cubanos e dizem ‘si?’.
Mas tudo isso é para contar que eu e meu grupo, as Socialaites Socialistas – Tatiana (‘Tati’) Bitati, Lusimara (‘Lus’) Trosa, Cristina (‘Qui’) Coisa e as outras –, estamos nos mudando para Brasília, para estarmos por perto caso a Dilma nos chame para o ministério. Não é para bajular mas sou totalmente a favor do sigilo eterno para os documentos da República. Vai que apareçam os versinhos safados que o marechal Dutra me mandava! Da tua Dorinha.”
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