Um código contra o Brasil
JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 08/05/11
A voz mais habilitada para falar pela população sobre o Código Florestal está ignorada pelo Congresso
A RECUSA ao bom senso e à voz da população é o princípio básico que pretende levar à votação nesta semana, por acordo às pressas na Câmara, um farto corpo de regras fundamentais para o Brasil -o novo Código Florestal, que dormitou por seguidos anos no Congresso. A voz mais habilitada para falar pela população sobre o tema, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência-SBPC, considera necessários uns dois anos de apreciação rigorosa da matéria antes da votação, tamanhas são as implicações do novo Código. A SBPC está ignorada pelo Congresso e pelo governo. Os motivos da urgência de votação invocada pelos grandes proprietários rurais e pelo governo são solucionáveis, todos, por medidas provisórias com determinações de fato provisórias, ordens administrativas e simples acordo de colaboração entre governo, Congresso e Ministério Público. Nem por isso foram considerados.
O texto que, ao concluir-se a peculiar semana brasiliense de no máximo três dias, era tido como entendimento entre as partes, rumo à votação, está repleto de brechas para a continuidade dos problemas que suscitaram um novo Código Florestal. E mereceriam que fosse feito com critérios rigorosos e independentes do poder financeiro dos grandes proprietários. Chamados, estes, pelo eufemismo de ruralistas, como se os pequenos e os mínimos agricultores, verdadeiros abastecedores da população, plantassem no asfalto.
Foi admirável a resistência, até aqui, dos ambientalistas e dos que pensam a sério no Código por outros motivos. O problema não é só ambiental. Cada determinação do Código tem implicações múltiplas, conforme as condições em que seja aplicada, na propriedade e uso da terra e, por decorrência, na economia da produção agrícola. Espremido, nem precisa ser muito, o sumo que qualquer entendimento revelará, nestes dias, é a química das conveniências para os grandes proprietários rurais. E não para as atenções requeridas pela amplitude de formas de propriedade e produção, de condições fluviais, geológicas e climáticas, e de finalidades da produção entre exportações e consumo interno. Como seria um Código Florestal para o país.
ANATÔMICO
A citação de sucesso, dentre as intermináveis falas no reconhecimento ao direito de união civil dos homossexuais, como de hábito foi do ministro Ayres Brito, que deseja a seus votos de magistrado no Supremo o reconhecimento literário. Eis o sucesso, feito pelos meios de comunicação em geral: "O órgão sexual é um plus, um bônus, um regalo da natureza."
O que quer dizer isso? Que os olhos e a visão, os sistemas da audição e do olfato, braços e pernas, o explorado coração e o paciente fígado não são "bônus", cada qual "um regalo da natureza", "um plus"?
Os homossexuais não pediram tanto. Nem a literatura.
A VINGANÇA
Seria absurdo se Bin Laden não soubesse que ser morto dependia só de menor ou maior espera. Por isso, a grande vingança americana esteve, imagino, naqueles minutos ou segundos entre a percepção de algo crítico e o balaço fatal. Nessa brevidade, Bin Laden foi varrido pela passagem fulminante e desesperadora de milhares de imagens por sua cabeça: "Quem foi que traiu?"
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