Montanha-russa
CELSO MING – Montanha-russa
O ESTADO DE SÃO PAULO - 13/05/11
Tão cedo os preços das commodities não saltarão da montanha-russa em que embarcaram.
Nos primeiros quatro meses do ano, o índice CRB, que mede o comportamento dessas cotações, saltou 11,3%. E apenas nos nove primeiros dias úteis de maio até esta quinta-feira , mergulhou 8,6% (veja o gráfico).
Commodities são matérias-primas negociadas diariamente nas bolsas internacionais de mercadorias. Petróleo, prata, cobre, milho, soja e café são commodities. Minério de ferro, enxofre, feijão e mandioca, embora sejam matéria-prima e alimentos, não são – porque não são negociados em bolsa.
Há duas explicações para a disparada de preços das commodities desde julho de 2010. A primeira dá força à especulação financeira: há dinheiro sobrando no mundo à procura de aplicação e um pedaço dessa enorme liquidez desembocou no mercado futuro de commodities. Vista dessa forma, essa alta é consequência das enormes emissões de moeda dos grandes bancos centrais.
A segunda explicação é a de que a escalada dos preços tem mais a ver com os fundamentos econômicos. É consequência da maior demanda por matérias-primas e alimentos que, por sua vez, provém da inclusão de crescentes camadas da população e do aumento de renda nos países emergentes, especialmente China, Índia e Coreia do Sul.
Esses dois fatores se compõem. Porque preveem, por exemplo, o aumento da procura por parte dos asiáticos, os especuladores despejam mais recursos na compra de contratos futuros de algumas commodities. E, por preverem altas alavancadas por especuladores, os compradores dos emergentes fazem estoques e tentam antecipar suas compras e, nessas condições, contribuem para a disparada dos preços. Mas há razões para acreditar em que o fator determinante seja mesmo o aumento do consumo dos asiáticos. Prova disso é que os preços de certas matérias-primas que não têm características de commodities também estão subindo – caso do minério de ferro e das terras raras.
Essa divergência de diagnóstico está longe de ser apenas teórica; produz consequências práticas. Bastaria restringir os negócios nos mercados futuros de commodities para derrubar os preços, se essa fosse a causa principal. As maiores exigências de margens nos negócios com commodities para entrega futura, como já aconteceu com a prata e com o petróleo, contribuem para baixar em alguma coisa os preços. E quando os grandes bancos centrais começarem a enxugar o mercado de dinheiro, podem cair ainda mais.
Mas, se o fator principal é a maior demanda asiática, o que pode derrubar os preços seria a perspectiva de menor crescimento econômico chinês. Nesta quinta-feira, por exemplo, os preços das commodities caíram porque a China aumentou a retenção compulsória dos bancos, o que favorece a contenção da demanda.
Como não parecem próximas nem a operação de saída estratégica dos bancos centrais nem a redução da demanda de matérias-primas, as atuais quedas de preços não devem ser interpretadas como uma reversão definitiva das atuais tendências. Com solavancos ou sem solavancos, parece prevalecer ainda a tendência de alta dos preços das commodities.
CONFIRA
Aí está a trajetória das cotações de sete commodities apenas em maio.
“Assimetria”. Os argentinos não conseguem defender de maneira consistente essa permanente disposição de travar a entrada de produtos brasileiros. Está em vigor um tratado de livre comércio (Mercosul), que eles nunca cumprem. o argumento é o de sempre: as condições entre os dois países são assimétricas. Eles têm à disposição todo o mercado brasileiro, mas não conseguem competir aqui, apesar do custo Brasil e do câmbio adverso para o produtor brasileiro.
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