Descontrolado
PAULO GUEDES
O GLOBO - 25/04/11
Os deuses sempre se respeitaram e foram também compreensivos com os incrédulos. A intolerância era típica de sacerdotes e fanáticos. E nada poderia ofender mais aos seguidores de uma crença religiosa do que homenagens em seu próprio templo a deuses de outra doutrina.
Sim, eu cometera o sacrilégio. Havia elaborado modelos macrodinâmicos em que falhas de mercado eram corrigidas por políticas públicas. Mercados privados disfuncionais e governos virtuosos em plena Universidade de Chicago, à época o melhor Departamento de Economia em todo o mundo nos meus campos de especialização. Eu praticara um ritual pagão na Capela Sistina.
Eram apenas experimentos em uma sequência de cursos em economia matemática. Mas renderam-me longas conversas com os deuses, sérias e respeitosas, e o profundo estranhamento com os medíocres sacerdotes. O tema investigado era a "controlabilidade" de sistemas dinâmicos, uma extensão do trabalho de Kenneth Arrow, Prêmio Nobel de Economia de 1972.
Um governo precisa calibrar a trajetória de seus instrumentos de controle, como os gastos públicos, as taxas de juros, a política cambial e os níveis de encargos trabalhistas, de modo a garantir as desejadas trajetórias de seus objetivos macroeconômicos, como a maior taxa de crescimento sustentável, inflação baixa ou mesmo estabilidade de preços, o pleno emprego e o equilíbrio das contas externas.
Um dos maiores desafios é justamente a coordenação eficaz desses instrumentos, a "controlabilidade" do sistema para a consecução dos objetivos desejados. A chave do enigma é a atribuição de metas atingíveis aos instrumentos de maior impacto sobre os objetivos desejados. E há algo de profundamente equivocado em nossas práticas macroeconômicas ao longo das últimas duas décadas e meia.
Em sua busca insaciável de recursos, o governo calibrou uma trajetória ascendente de encargos sociais e trabalhistas, o que se tornou uma arma de destruição em massa de empregos exatamente entre as faixas de mão de obra menos qualificadas. Outro exemplo de descoordenação macroeconômica é a trajetória ascendente dos gastos públicos em percentual do PIB como instrumento de criação de empregos. Sobem as taxas de juros e afunda a cotação do dólar, derrubando as trajetórias do consumo, dos investimentos, das exportações e da produção nacional de substitutos de importações. Estamos ainda longe do desejável grau de "controle".
Sim, eu cometera o sacrilégio. Havia elaborado modelos macrodinâmicos em que falhas de mercado eram corrigidas por políticas públicas. Mercados privados disfuncionais e governos virtuosos em plena Universidade de Chicago, à época o melhor Departamento de Economia em todo o mundo nos meus campos de especialização. Eu praticara um ritual pagão na Capela Sistina.
Eram apenas experimentos em uma sequência de cursos em economia matemática. Mas renderam-me longas conversas com os deuses, sérias e respeitosas, e o profundo estranhamento com os medíocres sacerdotes. O tema investigado era a "controlabilidade" de sistemas dinâmicos, uma extensão do trabalho de Kenneth Arrow, Prêmio Nobel de Economia de 1972.
Um governo precisa calibrar a trajetória de seus instrumentos de controle, como os gastos públicos, as taxas de juros, a política cambial e os níveis de encargos trabalhistas, de modo a garantir as desejadas trajetórias de seus objetivos macroeconômicos, como a maior taxa de crescimento sustentável, inflação baixa ou mesmo estabilidade de preços, o pleno emprego e o equilíbrio das contas externas.
Um dos maiores desafios é justamente a coordenação eficaz desses instrumentos, a "controlabilidade" do sistema para a consecução dos objetivos desejados. A chave do enigma é a atribuição de metas atingíveis aos instrumentos de maior impacto sobre os objetivos desejados. E há algo de profundamente equivocado em nossas práticas macroeconômicas ao longo das últimas duas décadas e meia.
Em sua busca insaciável de recursos, o governo calibrou uma trajetória ascendente de encargos sociais e trabalhistas, o que se tornou uma arma de destruição em massa de empregos exatamente entre as faixas de mão de obra menos qualificadas. Outro exemplo de descoordenação macroeconômica é a trajetória ascendente dos gastos públicos em percentual do PIB como instrumento de criação de empregos. Sobem as taxas de juros e afunda a cotação do dólar, derrubando as trajetórias do consumo, dos investimentos, das exportações e da produção nacional de substitutos de importações. Estamos ainda longe do desejável grau de "controle".
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