Defesa comercial não fortalece a indústria
CHARLES TANG
FOLHA DE SÃO PAULO - 09/04/11
O país do futuro se aproxima de seu destino de grandeza. Crescemos 7,5% em 2010 e a conquista de sediar a Copa do Mundo e a Olimpíada ajudou no reconhecimento do Brasil como um país de grande potencial. Nossas exportações para a China pagaram quase a totalidade de nossa dívida externa e possibilitaram acumular reserva de US$ 250 bilhões, o que ajudou o Brasil a sair cedo e fortalecido da crise financeira mundial.
Isso também possibilitou que o país fizesse a inclusão social de 28 milhões de brasileiros e expandiu a nossa economia. Nossa fixação em estabilidade monetária a custo de nossa pobreza sustentada deixou de ser a única prioridade, e a prosperidade do país também se tornou uma meta a ser alcançada.
A autoestima brasileira foi recuperada, mas essa euforia poderá ter curta duração se não houver um plano para a nação e/ou um planejamento estratégico de curto, médio e longo prazo.
Este momento de preços tão elevados das commodities deve ser aproveitado para aplicar sua receita no fortalecimento da indústria nacional, da infraestrutura, da educação e da saúde de nosso país.
Medidas de defesa comercial jamais fortalecerão nossa indústria.
Corremos o risco de criar, mais uma vez, um parque jurássico nacional, além de encarecer o custo de vida do sofrido povo brasileiro.
A proibição de compra de terra por estrangeiros somente impedirá a geração de empregos e de riqueza para nosso país. Baixando o custo Brasil e desmantelando nosso sistema de entraves, podemos proporcionar competitividade à indústria.
Nossa moeda se valoriza, e não somente em função da manipulação do dólar pelos EUA para promover suas exportações, gerar empregos americanos e diluir suas gigantescas obrigações. Nem se limita às medidas defensivas da China diante dessa manipulação da moeda americana. O real se valoriza devido aos juros elevados impostos por nossa gastança pública.
Quando as empresas nacionais deixarem de ter que buscar plataformas de produção com menor custo em outros países, elas poderão deixar de exportar os empregos brasileiros.
Os custos mais acessíveis de eletroeletrônicos, vestuários, alho, automóveis, material de construção e de inúmeros outros produtos foram conquistas realizadas com produtos baratos chineses, que ajudaram inclusive a reduzir nossa inflação!
A construção de nossa infraestrutura ajudará a aumentar a prosperidade e a influência do Brasil como celeiro neste mundo cada vez mais carente de calorias.
Nesta importante visita da presidente Dilma à China, ela poderá conseguir o apoio necessário para completar nossa infraestrutura de logística! E, para a nação que almejamos ser, não podemos continuar em 53º lugar no ranking internacional de educação.
O Brasil tem muito mais condições que a China ou que o Japão para ser o maior "tigre" de exportações do mundo e se tornar uma superpotência econômica. O exemplo chinês nos mostra que o caminho entre a pobreza e a riqueza não é tão distante ou demorado.
O presidente Kubitschek transformou uma sociedade agrária em economia industrial durante um único período governamental. O presidente Collor mudou o conceito da nação em menos de dois anos e o governo Lula criou as possibilidades do Brasil atual.
A presidente Dilma poderá construir o sonho brasileiro de um país prospero e moderno!
CHARLES A. TANG é presidente binacional da Câmara de Comércio & Indústria Brasil-China, cofundador do Instituto de Pesquisa e Estudo do Desenvolvimento Econômico, membro do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, comentarista da TV Central da China e presidente honorário da Câmara de Comércio Internacional de Pequim.
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