domingo, abril 17, 2011

ALBERTO TAMER - O que a China fez e nós, não


O que a China fez e nós, não
ALBERTO TAMER

O ESTADO DE SÃO PAULO - 17/04/11

A presidente Dilma Rousseff encerra sua viagem à China com resultados práticos, investimento em tecnologia, por exemplo, e promessas a confirmar. Sem dúvida, um ponto alto no qual ela insistiu e obteve muito, foi convencer empresas chinesas, como a ZTE, a investir mais US$ 200 milhões em telecomunicação no Brasil.
Outras virão, por que, disse ela, "temos uma combinação de crescimento acelerado, projeto estratégico de desenvolvimento, ciência, tecnologia, inovação e inclusão social."
Ela obteve o que podia, bem mais que Lula conseguiu na viagem de 2009. A China cresceu muito e passou a depender de matérias-primas e alimentos do Brasil.
Os chineses dão prioridade ao comércio com países que podem abastecê-lo com petróleo, alimento e minérios, mas não fazem concessões com produtos industrializados.
Nessa área, o que o Brasil obteve é uma promessa vaga.
"A parte chinesa manifestou disposição de incentivar suas empresas a ampliar a importação de produtos de maior valor agregado", diz o comunicado final.
Para atenuar as pressões, o governo enviará, em abril, ao Brasil, missão chefiada pelo ministro do Comércio para buscar oportunidades de compra.
Não vai dar. Eles podem até vir, mas se objetivo é esse, se limitarão a passear e voltar com mãos vazias porque produzem tudo a preços bem menores e não há muito a lhes oferecer que não tenham de melhor qualidade e a preços menores.
Estudos mostram um fato inusitado: mesmo que câmbio, juros e custos salariais fossem nivelados entre os dois países, ainda assim a indústria chinesa seria mais competitiva. Ela investiu em tecnologia, em inovação, importaram, copiaram e melhoraram. Os chineses mandaram milhares de estudantes para as universidades americanas e trouxeram professores de lá para ensinar na China!
São diferentes? Não. O governo agiu assim porque compreendeu que não havia mercado interno para sua produção. Cerca de 800 milhões viviam abaixo da linha da pobreza há alguns anos. Para crescer, precisava exportar e para exportar precisa ter qualidade e preço. Foi a ausência do mercado interno e a existência de padrões de vida miseráveis, que ainda predominam, que levaram a China a ser o que é hoje no mercado mundial. Um trabalho intensivo, persistente e bem orientado.
E nós? No Brasil, foi o oposto. Tinha um mercado interno em expansão graças à politica social dos últimos oito anos, que não existe na China. Nossos operários ganham mais, consomem mais e vivem melhor que os chineses.
A indústria nacional acomodou-se para atender a um mercado interno vigoroso, mas pouco exigente de produtos de qualidade internacional. Não investiu mais intensamente em produtividade, em inovação para competir no mercado internacional. Afinal, até pouco tempo, sem a competição externa provocada pelo real valorizado, estava tudo muito bem. Só agora reclamam. Mas nem todas, pois muitas empresas importam da China a preço baixo, montam e vendem aqui.
Entre janeiro e março a balança comercial do setor de média e alta tecnologia apresentou o pior déficit em 22 anos, US$ 17,7 bilhões, o dobro do registrado no mesmo trimestre de 2008 e 2009, informa o colega João Valverde, do Valor.
Tecnologia! É isso o que Dilma foi buscar na China. Conseguiu muito, não aquela baboseira da Foxconn. O Brasil tem urgência de criar centros de tecnologia. Dilma visitou a ZTE. Outras virão porque o Brasil tem a atração do mercado interno. Ao contrario da China, ele é a base de conquista do mercado internacional.
Seria só isso? É sim. Se quiserem, perguntem ao Obama, que assustado com a ascensão da China, disse que a nova meta do governo é investir e estimular maciços investimentos, com ofertas especiais de incentivos de toda ordem. E, olhem, eles não exportam apenas US$ 200 bilhões como nós, não. Exportam mais de US$ 2 trilhões. Tudo isso, mas estão com medo da China...E nós, não? 

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