Bolo de cenoura
MELCHIADES FILHO
FOLHA DE SÃO PAULO - 07/03/11
A temporada de reorganização partidária não se resume ao encolhimento da oposição, vítima do adesismo de uns e do personalismo de outros. Movimento importante ocorre também na base do governo: o PSB tenta ganhar musculatura para reivindicar o papel de parceiro preferencial do PT.
O PSB colheu boas votações em 2010, tem líderes com índices lulistas de popularidade e está empenhado em crescer -leia-se, em acomodar todo mundo e qualquer um.
A Dilma interessa uma força que rivalize com o PMDB. Lula falava numa frente ampla de esquerda. A sucessora, prática, optou por engordar o PSB. Daí a bênção à incorporação do prefeito de São Paulo, o serrista Gilberto Kassab (DEM).
Para manter os dois aliados sob controle, o Planalto balança a mesma cenoura: a posição de vice na chapa presidencial de 2014.
Como deseja reeditar a dobradinha de 2010, Michel Temer, presidente do PMDB, pacientemente tolera rasteiras em antigos redutos do partido (Funasa, Correios, Furnas).
Como sonha em substituir Temer daqui a quatro anos, Eduardo Campos, presidente do PSB, começa a fechar portas a amigos da oposição.
O mapeamento do segundo escalão feito pela Folha, no entanto, escancara a essência do jogo.
A presidente nomeou 124 filiados do PT. Do PMDB e do PSB? Só 13 e 10. "Critério técnico" é isso aí.
A mesma lógica prevaleceu nos cortes do Orçamento. Ministérios do PT levaram um talho de menos de 10%. Saúde e Desenvolvimento Social passaram quase batidos.
Repartições dos aliados, por sua vez, sofreram brutalmente. Nas mãos do PT, o Turismo era a pasta mais beneficiada pelas emendas parlamentares. Entregue agora ao PMDB, perdeu 84% das verbas.
Dilma cuida de seus correligionários. Modula e ao mesmo tempo contém o poder de fogo dos aliados. PSB, PMDB e "traíras" da oposição se acotovelam hoje pelo direito de serem estrangulados amanhã.
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