Não à inflação
CELSO MING
O ESTADO DE SÃO PAULO - 18/03/11
A presidente Dilma Rousseff insistiu ontem, em Uberaba, no que já havia garantido em entrevista ao jornal Valor: seu governo "não negocia com a inflação". Essa intransigência é uma postura clara que confirma pronunciamentos anteriores sobre a matéria, especialmente seu discurso de posse, no dia 1.º de janeiro.
Dilma está certa ao expressar o que já se tornou clássico na economia política: não há crescimento sustentável em ambiente eivado de inflação. No Brasil, infelizmente, alguns figurões ainda apregoam a tese de que o combate à alta de preços é incompatível com crescimento e com criação de empregos. No entanto, crescimento com inflação é, como a própria presidente vem dizendo, apenas voo de galinha, acaba em seguida.
Essa atitude firme contrasta com a do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que tem preferido afirmar que esta safra de inflação não preocupa, porque é sazonal e está naturalmente em retração. Mantega passa, assim, a impressão de que a atual disparada de preços vai perder fôlego logo a seguir e, por isso, não requer combate sem tréguas.
A presidente Dilma parece ter entendido, a partir do que aconteceu nos últimos 16 anos de governo (tanto o período Fernando Henrique como o período Lula), que a atitude intransigente em relação à inflação não tem apenas consequências econômicas positivas, mas, também, alto alcance político. O eleitor sempre responde positivamente a um governo que preserva o salário do trabalhador e castiga governantes tolerantes com a inflação.
Mas não dá para ignorar nem as inconsistências do próprio discurso da presidente Dilma nem as contradições entre o que diz e o que faz.
Ela afirma, por exemplo, que não há inflação de demanda no Brasil, querendo com isso dizer que a esticada dos preços a partir do final do ano passado é, preponderantemente, consequência da escalada dos preços internacionais dos alimentos e das matérias primas, fora do alcance do governo, e não de forte aumento do consumo, provocado pelo excesso das despesas públicas.
E, de fato, a disparada dos preços deste início de ano não se concentra apenas nos alimentos e itens de incidência sazonal, como os reajustes da condução. Está muito espalhada na economia (alcançou 62% dos preços que compõem o custo de vida) e atinge, especialmente, áreas que nada têm a ver com alimentos, como todo o setor de serviços.
Além disso, há uma forte dose de inflação de demanda na incubadeira encomendada pelo próprio governo Dilma. Qualquer planejador de negócios, por exemplo, sabe que, no ano que vem, terá de enfrentar um avanço de quase 13,9% no salário mínimo (ou cerca de 7,5% em termos reais).
Em todo o caso, a afirmação da presidente, de que a inflação não é de demanda, não deve ser entendida somente como uma questão de semântica. Implica, sim, determinado diagnóstico e procedimentos de contra-ataque que, felizmente, não observou.
Ou seja, se a inflação não fosse de demanda, como diz a presidente Dilma, seu combate não exigiria aperto monetário (aumento dos juros) - como o colocado em prática pelo Banco Central - nem cortes de despesas públicas - como os anunciados exatamente com o objetivo de controlar a inflação.
CONFIRA
Iene mais forte
Trata-se de forte valorização de nada menos que 3,7% em quatro dias. Muitos podem estar se perguntando se não deveria acontecer o contrário, refletindo a parada da economia e as enormes perdas de patrimônio.
Fazer caixa
Essa alta reflete a expectativa de que seguradoras e investidores agora sejam obrigados a vender ações e títulos para fazer caixa e enfrentar as despesas de reconstrução.
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