Banco Central sob nova administração
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO - 08/12/10
Alexandre Tombini estreou ontem em público como presidente do Banco Central do governo Dilma Rousseff - foi sabatinado pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Na prática, dá o tom do BC pelo menos desde o ano passado, quando foi reconhecido vice-rei da autoridade monetária, quando Henrique Meirelles discutia com Lula o que fazer de sua vida política.
Apesar da recente fofoca histérica no mercado, Tombini confirmou seu perfil nada extravagante, mas de um economista mais temperado de pragmatismo do que seus colegas mais maníacos, em especial alguns da praça do mercado.
Grosso modo, Tombini foi convencional, tanto que mencionou a necessidade de, em algum momento, o quanto antes possível, reduzir a meta de inflação, o que causa alergia a "desenvolvimentistas". Mas, passada a fase de desordens maiores da economia brasileira, uma meta de 4,5% com margem de dois pontos para cima ou para baixo é mesmo tanto alta como folgada. Não precisa ser as duas coisas ao mesmo tempo, ainda mais se quisermos juros civilizados.
Tombini fez apenas pequenos adendos ao credo habitual dos BCs (autonomia etc.), mas fez. Disse, em suma, que não se pode aceitar que políticas econômicas de outros países nos influenciem e que "situações excepcionais" justificam intervenções no câmbio, por exemplo.
Todo mundo e seu pai sabe que a direção do BC sob Lula 2 é flexível e pragmática a esse respeito. Tombini parece que foi a público dizer que fala muito bem o bancocentralês, mas que pode usar alguma gíria em caso de demências dos mercados (fluxos alucinados de capital e suas bolhas) e de políticas econômicas como a que os Estados Unidos procuram exportar ao resto do mundo, a contragosto do mundo (que aliás em quase toda parte reagiu ao despejo de dólares do Fed).
Tombini parece preocupado com a hipótese de estiagem de capital externo. Neste ano, o Brasil tem sido inundado de dinheiro. O futuro presidente do BC teme que uma crise qualquer ponha o mercado em paniquito e que tais fluxos cessem ou arrefeçam, criando aquelas confusões de sempre -encarecimento de crédito, dificuldade de rolagem de dívida externa privada, desvalorização incômoda do real etc., o de sempre.
A esse respeito, o economista relembrou que uma aparente heterodoxia ou velharia brasileira, os compulsórios altos (dinheiro dos bancos parado obrigatoriamente no BC), fez sucesso global na crise de 2008.
Mas qual a hipótese de crise que incomoda Tombini? O pessoal do BC tem falado dos riscos do imbróglio da dívida europeia, que está mesmo muito mal parada. Não há apenas isso, porém.
Apesar de haver um Fla-Flu sobre o assunto, há gente séria a lembrar que pode haver algum tumulto com a queda de preços de commodities (que exportamos), dado que China e complexo asiático crescerão menos neste ano. Por si só, a desaceleração talvez não fosse forte o bastante para balançar o coreto das contas brasileiras. Mas os preços das commodities estão inflados pelos rapazes "especuladores" do mercado. Podem levar um susto e dar uma corrida nos preços. Não tende a ser dramático, o Brasil deve crescer mesmo uns 4%, mas vai ser um ano mais enrolado, lá fora e aqui, para a equipe econômica de Dilma.
Apesar da recente fofoca histérica no mercado, Tombini confirmou seu perfil nada extravagante, mas de um economista mais temperado de pragmatismo do que seus colegas mais maníacos, em especial alguns da praça do mercado.
Grosso modo, Tombini foi convencional, tanto que mencionou a necessidade de, em algum momento, o quanto antes possível, reduzir a meta de inflação, o que causa alergia a "desenvolvimentistas". Mas, passada a fase de desordens maiores da economia brasileira, uma meta de 4,5% com margem de dois pontos para cima ou para baixo é mesmo tanto alta como folgada. Não precisa ser as duas coisas ao mesmo tempo, ainda mais se quisermos juros civilizados.
Tombini fez apenas pequenos adendos ao credo habitual dos BCs (autonomia etc.), mas fez. Disse, em suma, que não se pode aceitar que políticas econômicas de outros países nos influenciem e que "situações excepcionais" justificam intervenções no câmbio, por exemplo.
Todo mundo e seu pai sabe que a direção do BC sob Lula 2 é flexível e pragmática a esse respeito. Tombini parece que foi a público dizer que fala muito bem o bancocentralês, mas que pode usar alguma gíria em caso de demências dos mercados (fluxos alucinados de capital e suas bolhas) e de políticas econômicas como a que os Estados Unidos procuram exportar ao resto do mundo, a contragosto do mundo (que aliás em quase toda parte reagiu ao despejo de dólares do Fed).
Tombini parece preocupado com a hipótese de estiagem de capital externo. Neste ano, o Brasil tem sido inundado de dinheiro. O futuro presidente do BC teme que uma crise qualquer ponha o mercado em paniquito e que tais fluxos cessem ou arrefeçam, criando aquelas confusões de sempre -encarecimento de crédito, dificuldade de rolagem de dívida externa privada, desvalorização incômoda do real etc., o de sempre.
A esse respeito, o economista relembrou que uma aparente heterodoxia ou velharia brasileira, os compulsórios altos (dinheiro dos bancos parado obrigatoriamente no BC), fez sucesso global na crise de 2008.
Mas qual a hipótese de crise que incomoda Tombini? O pessoal do BC tem falado dos riscos do imbróglio da dívida europeia, que está mesmo muito mal parada. Não há apenas isso, porém.
Apesar de haver um Fla-Flu sobre o assunto, há gente séria a lembrar que pode haver algum tumulto com a queda de preços de commodities (que exportamos), dado que China e complexo asiático crescerão menos neste ano. Por si só, a desaceleração talvez não fosse forte o bastante para balançar o coreto das contas brasileiras. Mas os preços das commodities estão inflados pelos rapazes "especuladores" do mercado. Podem levar um susto e dar uma corrida nos preços. Não tende a ser dramático, o Brasil deve crescer mesmo uns 4%, mas vai ser um ano mais enrolado, lá fora e aqui, para a equipe econômica de Dilma.
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