Ainda falta muito
Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 08/12/2010
Esta é a última das 76 reuniões do Copom que contou com a condução de Henrique Meirelles, o mais longevo presidente da história de 45 anos do Banco Central do Brasil.
Embora vistas as coisas ainda muito de perto, dá para dizer que o balanço da atual administração do Banco Central foi positivo. Algumas vezes ficou a reboque da inflação e, outras, precipitou-se e comeu cru. Mas nenhum desses percalços foi um erro tão grave que não pudesse ser compensado em seguida.
Nos últimos oito anos, o Banco Central manteve a inflação quase sempre dentro da meta, aí considerada a faixa de flutuação permitida. E conseguiu, na maior parte do tempo, um gerenciamento adequado das expectativas dos remarcadores de preço da economia, condição importante de eficácia do sistema de metas de inflação. Embora nunca contasse com aprovação maciça à sua política de juros, a atual administração fez com que a palavra de um dirigente do Banco Central passasse a ter mais peso do que tinha no início de 2000, quando o Brasil ainda engatinhava no sistema de metas.
O presidente Lula teve uma boa participação nesse processo porque afinal entendeu que o maior inimigo do trabalhador é a inflação e, nessas condições, decidiu dar à direção do Banco Central liberdade para combatê-la.
Os juros ao ano no Brasil continuam entre os mais altos do mundo, mas, em oito anos, caíram 15,25 pontos porcentuais, o que não é pouco. Poderiam ter caído mais, se a política fiscal (controle das despesas públicas) não tivesse sido tão flácida. O presidente Lula fez excessivas concessões na área do gasto público e deixou o Banco Central sozinho no combate à inflação. Ainda há um longo caminho a andar em direção à normalidade monetária.
O momento é de retomada da inflação, que pede contra-ataque tanto da política fiscal como da política de juros. O ministro Guido Mantega está passando o recado de que vai apertar o cinto mesmo a custo do atraso das obras do PAC. E isso é indicação de que a nova administração perseguirá com mais empenho o equilíbrio das contas públicas, pelo menos nos primeiros meses de mandato.
Na semana passada, o Conselho Monetário Nacional e o Banco Central tomaram decisões cujo objetivo foi restringir o crédito, de maneira a impedir o aparecimento de bolhas especulativas e de reduzir a exposição dos bancos a ativos de retorno duvidoso. Nesse sentido, tiveram caráter prudencial. Não vieram com o objetivo direto de conter a inflação, mas algum efeito colateral nesse sentido acabarão por ter. O próprio Meirelles já avisou que essas providências não substituem a política monetária (política de juros).
A maioria dos observadores entendeu que essas decisões contribuíram para reduzir a hipótese de um aperto imediato dos juros. Mas também compreenderam que esse aperto ficou inevitável para ser aplicado no primeiro trimestre de 2011, possivelmente já na próxima reunião de janeiro, agendada para dia 19.
Não se deve afastar a hipótese de que o Copom entenda que seria melhor agir imediatamente para que os efeitos sobre a inflação apareçam também mais rapidamente. No entanto, não é essa a expectativa geral e não é do feitio do Banco Central agir sem que os agentes da economia estejam preparados.
CONFIRA
A escadinha acima reflete a trajetória dos juros básicos (Selic) desde janeiro de 2008. Será esta a foto final dos juros da temporada Lula?
Mais um naufrágio à vista
Na sua edição de ontem, o New York Times avisa que o economista Nouriel Roubini, que ficou famoso por ter sido o primeiro a prever a eclosão da crise global, está denunciando que os bancos americanos ainda vão ter de enfrentar perdas de US$ 1 trilhão em empréstimos hipotecários não honrados. Roubini afirma também que o mercado imobiliário vai passar por novo Mergulho.
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