O riso dos traficantes
Lya Luft
Revista Veja
Comenta-se à boca pequena que alguma caneta poderosíssima no exterior estava por deletar o Brasil como acolhedor da Olimpíada e da Copa, devido à violência e consequente insegurança; de repente, uniram-se todas as forças militares, as estratégias, os armamentos e veículos de guerra, e ocuparam-se territórios que havia décadas pertenciam aos criminosos. Não quero ser maledicente, mas a ideia não me parece insensata demais. Seja como for, é de se orgulhar ter homens e mulheres brigando assim por nós. Acompanhei até emocionada o inicio da invasão de dois morros do Rio, sua ocupação por soldados e policiais. Constatei menos comovida a fuga dos criminosos por canos de esgoto e galerias pluviais, alguns poucos capturados, a maioria certamente espalhando-se por favelas próximas ou distantes, preparando seu contragolpe ou continuando seus fazeres mortais que nós estimulamos, alimentamos, a cada baforada de maconha, cheirada de pó ou injeção de outro veneno na veia. Embora me alegre muito com quase zero de monos, me espante com os poucos presos para tão grande aparam (parece que os chefões escaparam com calma porque a invasão foi anunciada durante quase 24 horas ames de ocorrer), alguma coisa me deixa desconfortável, mas pode ser inexperiência e tolice minha. Propaganda demais, autoelogios demais, celebração demais quando sabemos que os que fugiram estão instalados em outras favelas, e que enquanto consumirmos drogas eles continuarão donos da festa. Não tenho cacife para comentar tudo isso, e aqui o faço como observadora comum. Mas cantamos vitória cedo, houve até quem quisesse declarar esse dia o dia da refundação do Rio de Janeiro. Calma! A trabalheira que há pela frente é quase uma Guerra do Afeganistão. Esperemos que nenhum dos nossos soldados seja ferido ou morto. Levaremos anos para que o Rio seja considerado uma cidade limpa. Há muitos morros a ser ocupados, muitos traficantes a ser presos, muita droga a ser encontrada, junto com armamento pesado e o resto. E o que me preocupa mais é algo que fica abaixo dos morros, e fora das favelas: é a entrada de drogas e armas pelas nossas tão mal vigiadas fronteiras, e são os consumidores. A triste constatação de milhões de usuários que enchem os bolsos dos traficantes e de seus chefes (sempre há um superior qualquer, que lucra muito mais). Nem falo dos doentes, os viciados, os que precisam de tratamento, entendimento e atendimento. Raros se recuperam. Mas vale a pena tentar: uma vida que se salve vale tudo. Não pretendi ser engraçada nem quis bancar a boazinha quando escrevi e disse, incontáveis vezes, que sempre que um de nós fuma, cheira ou injeta qualquer veneno está fazendo continência a um traficante. Está pagando a bala que, na arma dele ou de um de seus sequazes, vai matar alguém. Quem sabe meu filho, teu filho, nosso filho. Amigos e leitores meus se horrorizam com esse meu rigor. Lamento, mas continuo acreditando nisso. Se conseguíssemos demo ver do hábito esses usuários não doentes, não viciados, que em lugar de enfrentar as dificuldades da vida se escondem atrás da nuvem de fumaça ou enchem o nariz de poeira mortal, que em lugar de assumir seu lugar no mundo injetam ilusão nas veias, teríamos vencido a maior de todas as batalhas. Ocuparíamos não apenas morros de traficantes, mas vidas humanas, famílias inteiras, atingidas pela fuga em massa de suas pessoas queridas - não pelas galerias de esgoto, mas pelos túneis do esquecimento. Não sou simpática nesse assumo, eu sei. Mas presto aqui meus respeitos aos que, viciados, conseguem controlar essa doença; e aos que, usuários brincando com as drogas como um colchão amortecedor, caem em si e mudam de placebo. Nossa irresponsabilidade favorece os portadores da desgraça, que, saltitando de morro em morro, podem até temporariamente se esconder, se disfarçar, mas, a cada pedido de mais droga e chegada de mais mercadoria, hão de abrir - quem sabe neste mesmo instante - o seu melhor sorriso. |
3 comentários:
Primeiramente,
Aprenda a escrever e editar o que você escreve antes de publicar algo (no sentido de tornar algo público).
A sua visão acanhada da questão das drogas é no mínimo ignorante, para manter a conversa em um nível civilizado.
Você inverte toda a questão quando diz que o consumidor de drogas é a causa (ou a culpa) do tráfico de drogas e da violência. Esta forma simplista e até mesmo inocente de ver as coisas deveria, por si só, ser razão para você abster-se de opinar em tal complexo assunto.
O tráfico de drogas não existe por causa dos usuários. O tráfico existe por conta de uma proibição ao uso de drogas. Ao transferir um problema de saúde pública para a delegacia, cria-se um mercado ilegal para uma demanda já existente e que a história prova que não irá desaparecer nunca.
Na história das sociedades humanas, o uso de entorpecentes sempre esteve presente desde os primórdios. Tecnologia tornou as drogas (tanto legais quanto ilegais) mais potentes e poderosas, certamente. Isso não diminui em nada o espaço que as drogas sempre tiveram dentro das diferentes sociedades humanas.
Na Europa, por exemplo, as políticas de saúde pública e segurança se ajustaram para tratar da questão das drogas de maneira mais inteligente e os resultados, depois de mais de 30 anos, é de grande diminuição da violência, corrupção policial e até consumo com relação às drogas. Um Exemplo clássico é o da Holanda, onde cerca de 3% da população usa maconha contra 8% nos EUA (cerca de 24 milhões), onde as políticas de repressão às drogas crescem todo ano.
Eu entendo que viver no meio de uma guerra, como é viver no Rio, deixa nossa visão da realidade um pouco embaçada. Mas a realidade é que existe um grande interesse do governo americano em nos fazer acreditar que a chamada "guerra contra as drogas" faz algum sentido. O governo dos EUA tem $20 BI ao ano de orçamento para o combate às drogas, dinheiro esse que é muito pouco controlado pelo estado americano. 70% desse dinheiro vai para o financiamento na construção de penitenciárias pela iniciativa privada, a indústria que mais cresce no país. 85% da população carcerária do País é de usuários de drogas, sem registro de violência. Não é coincidência.
Os EUA é a única nação desenvolvida no mundo que proíbe pesquisa independente da maconha. Isso se deve por uma simples razão: Depois de mais de 30 anos de pesquisa extensiva em diversos países europeus, foi constatado que o cânhamo tem diversos usos, que vai de uso têxtil à geração de energia (Bio-diesel), além de centenas de usos farmacológicos. Para se ter uma idéia: O uso da maconha é capaz de suprimir 80% dos remédios usados nos tratamentos de câncer e AIDS(neste caso, os usados para tratar as consequencias do coquetel), com melhores resultados e sem contra-indicações. Também foram postos ao chão todas as mentiras sobre as consequências de seu uso, como perda de massa neural, adicção, perda de memória, etc... A simples legalização da maconha nos EUA tornaria, da noite para o dia, quase 20 milhões de usuários de droga em cidadãos respeitadores da lei (segundo pesquisas, 80% dos usuários de drogas dentro dos EUA usam apenas maconha).
Eles não querem flexibilizar suas políticas anti-drogas pois isso tornaria o orçamento para o combate às drogas superdimensionado... DEA é uma agência viciada neste dinheiro.
É claro que a indústria farmacêutica não quer que as pessoas parem de comprar seus produtos, que muitas vezes são extremamente perigosos à saúde, substituindo-os por algo que qualquer pessoa poderia plantar em seu quintal, ou até mesmo em um armário, de graça. Mas graças à internet, hoje podemos ter acesso à informações e pesquisas científicas antes que elas ganhem conotações políticas ou sejam distorcidas pela mídia, que sempre irá proteger os interesses de seus patrocinadores, os anunciantes.
Agora, voltando à questão brasileira, precisamos combater o crime e a violência, mas ao mesmo tempo precisamos de uma melhor política de saúde pública e de segurança que protejam os interesses do povo brasileiro, não dos lobistas dos EUA, da indústria farmacêutica Nacional ou do sistema prisional privado.
Precisamos pesquisar onde e quais políticas deram certo e adequa-las à nossa realidade.
A legalização e controle das drogas em vários países proporcionou a diminuição da violência e do mercado negro, seguido de uma maior educação da população à respeito do tema, seguido da diminuição do consumo entre jovens e adultos, maior arrecadação de impostos, menos gastos com saúde pública e segurança.
Agora, faça um grande favor à si mesma e à quem lê este blog e informe-se antes de publicar uma opinião extremamente preconceituosa, beirando o facismo elitista.
A verdade liberta. Tome esse criticismo de maneira positiva e irá tornar-se uma pessoa melhor e mais informada. Parar de assistir a TV GLOBO também ajuda.
Paz!
Não sou anônimo não,
Meu nome é Fabio Vellozo
Olhe Fábio Vellozo, vá cuidar de ler as notícias tbm, que essa é uma reportagem recente e que saiu na VEJA! SE você acha preconceituosa, então a maioria da população brasileira ainda é preconceituosa E VOCÊ TEM QUE ACEITAR.! Vá cuidar em lê também,porque se você não sabe, Lya Luft é uma das melhores melhores escritoras e comentarista do Brasil. VOCÊ tem sua opinião e acho que você deve respeitar as outras opiniões também!!
E MEU NOME É AMANDA DE SOUZA, E NÃO SOU DONA DESSE BLOG, MAS VI SEU COMENTÁRIO E NÃO QUIS DEIXAR DE RESPONDER!
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