E o rombo vai se alargando
Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 22/12/2010
Por enquanto, o rombo nas contas externas do Brasil está sendo mais do que compensado com a entrada de capitais.
Mas preocupa a escalada do déficit registrado nas transações correntes, que resume todo o fluxo de recebimentos e pagamentos em relação ao exterior, menos entrada e saída de capitais.
O gráfico dá uma ideia da rapidez com que esse rombo vai sendo aberto. A excelente perspectiva de faturamento com exportações de commodities, mais a entrada de investimentos estrangeiros, o bom nível de crédito que o País desfruta hoje e, mais que tudo, as reservas já perto dos US$ 300 bilhões garantem cobertura para esse déficit crescente. O problema é que ele reflete um salto insustentável do consumo.
Alguns economistas e muitos empresários da indústria lamentam o bom desempenho da exportação de produtos primários. Entendem que vai empurrando a economia para a produção de bens de baixo valor agregado e que empregam relativamente pouca gente, com a agravante de que concorrem para a valorização do real (baixa do dólar), fator que tira competitividade do produto industrial brasileiro.
Esse conceito de que é ruim ter forte exportação de commodities talvez fosse válido no início da segunda metade do século passado, quando os termos de troca eram desfavoráveis para o Brasil, então um exportador de café e açúcar.
Mas não dá mais para sustentar essa linha de raciocínio. As mercadorias estratégicas já deixaram de se concentrar nos produtos da indústria de transformação. Continuam a ser os de alto conteúdo tecnológico e hoje são cada vez mais matérias-primas, alimentos e petróleo. E essa é a grande riqueza do Brasil que mais atrai o investimento estrangeiro. Não fosse a exportação de produtos primários, que correspondem hoje a 45% do total, mais o cacife em reservas, o País já estaria em apuros.
O esgotamento do Tesouro Nacional como financiador de última instância de projetos de infraestrutura está empurrando a economia para as PPPs (parcerias público-privadas), modelo em que o setor privado, tanto nacional como estrangeiro, passará a ter maior participação. Por enquanto, o governo do PT ainda esperneia diante da perspectiva de ter de atrair capitais de fora. Mas provavelmente terá de se render ao inevitável ou, então, conformar-se com o colapso da rede de estradas, portos e aeroportos, e aí pagar o preço do fracasso.
Se houver essa abertura para o Investimento Estrangeiro Direto (IED) na infraestrutura, o fluxo de capitais ainda compensará o aumento do déficit nas contas correntes. Mas a longo prazo é preciso prover mais poupança interna, o que implicaria menor velocidade do crescimento do consumo e mais austeridade.
As primeiras manifestações da presidente eleita, Dilma Rousseff, indicam que o governo está atento para o problema e parece preparado para colocar em prática uma estratégia econômica que volte a dar importância ao equilíbrio das contas públicas. O problema é que a costura política que está sendo feita nessa transição de administração parece indicar que o novo governo ficará vulnerável às pressões políticas. Quando isso acontece, é preciso fazer concessões na distribuição das verbas públicas. O risco é que não se consiga reequilibrar as prioridades.
"Lá está pior"
A Infraero e as companhias aéreas do Brasil estão esfregando as mãos diante do caos aéreo na Europa. Acham que agora dispõem de um bom arsenal de desculpas para o que acontece por aqui.
Colchão acolhedor
O Instituto Nacional de Estadística y Censos (Indec) calcula que os argentinos entesouram no momento nada menos que US$ 140 bilhões, em casa ou no exterior. É o equivalente a quase duas vezes as exportações do país neste ano.
A inflação da carne
A alta da carne continua sendo o maior impacto sobre a evolução do custo de vida do brasileiro. Ontem, saiu o IPCA-15, do IBGE, que acusou um avanço de 8,32% nos preços das carnes, com impacto de 0,21 ponto porcentual na inflação de 0,69% no período de 30 dias terminado no dia 15. A carne bovina não é o único vilão inflacionário. Os preços da carne de frango subiram 5,31% em dezembro depois de terem avançado 3,33% em novembro.
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