Mais Europa. E não menos
Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 14/12/2010
Os problemas na área do euro são tão graves que o primeiro impulso que ocorre aos políticos é abandonar de uma vez a moeda encrencada e voltar às moedas nacionais. Isso ocorre tanto aos alemães, que têm saudades do velho e forte marco, como aos gregos, irlandeses, portugueses e espanhóis, que hoje não podem recorrer ao antigo recurso de provocar a alentada desvalorização cambial, que garantisse maior competitividade da produção interna e, portanto, uma saída da encalacrada atual pelo crescimento das exportações.
É por isso que, nas últimas semanas, se falou tanto em fim do euro, em desmembramento em pelo menos duas ou três moedas comuns; ou então, à saída do bloco de um ou mais países, inclusive da Alemanha. A própria chanceler alemã, Angela Merkel, chegou a avisar que o fim do euro não era mais uma hipótese inadmissível.
Mas esta é uma falsa solução, que implica menos Europa. Tende a trazer mais problemas que soluções. Para o país quebrado, por exemplo, sair do euro significaria voltar à moeda própria em níveis fortemente desvalorizados, decretar o calote da dívida, renunciar a qualquer ajuda financeira a partir do bloco, permanecer anos e anos no limbo do mercado de títulos e, talvez pior que tudo, enfrentar uma inflação dramática produzida pela desvalorização cambial.
Para os países centrais, abandonar o euro significaria voltar à sua nacional insignificância, dizer não a uma moeda internacional de reserva, adiar por tempo indeterminado a condição de liderar a Europa e, last but not least, enfrentar um clima de negócios dentro da Europa (para onde vai a maioria das suas exportações) num ambiente de dramática volatilidade cambial, que tira previsibilidade aos contratos.
Por isso, a cada surto de volta ao passado se reforçam as propostas de soluções de "mais Europa". Ontem, o ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, avisou que o governo da Alemanha está disposto a discutir propostas de coordenação de políticas fiscais dentro da área do euro.
O maior problema do bloco não é a divisão em países ricos e pobres; ou em países centrais e países de periferia. Nos Estados Unidos, por exemplo, também há Estados ricos, como Nova York, Flórida e Illinois. Mas há também a eternamente falida Califórnia e os remotos Alasca ou Havaí. E, no entanto, não há dificuldade em manter a moeda comum, o dólar, porque a política fiscal é a mesma, as leis são as mesmas e há uma transferência de recursos organizada.
A União Europeia não é assim. Cada país tem sua política fiscal, com seu orçamento e seu sistema de impostos; cada um tem regime próprio de previdência social e de subsídios e medidas assistenciais. A principal fragilidade do euro é a baixa consistência fiscal, cuja solução exige um mínimo de unidade.
O que Schäuble está dizendo é que a saída consiste em costurar uma unidade fiscal, que, por sua vez, exigirá um amplo acordo político para constituí-la e para administrá-la.
O problema é que a solução "mais Europa" implica influência e maior poder dos países centrais, especialmente Alemanha e França, sobre os demais. Até agora, essa união fiscal e política não foi possível. Mas são tantas as encrencas que afligem a área que esta talvez seja a única saída que evite a desagregação.
CONFIRA
A forte aceleração do calote em novembro (veja gráfico), ontem divulgada pela Serasa, a empresa que faz esses levantamentos, já havia sido detectada pelo Banco Central. E foi o que motivou as restrições ao crédito tomadas juntamente com o Conselho Monetário Nacional no dia 3.
Tem cara de bolha
O objetivo das medidas foi impedir, na origem, o desenvolvimento de uma bolha do crédito que poderia colocar em risco a saúde de toda a rede bancária. O Banco Central conta com uma reversão desse movimento já nos próximos dois meses.
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