A melhor novidade
JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 21/11/10
Inércia e silêncio cercam grupos de pressão que buscam influência na composição do governo
ENTRE AS DIFERENÇAS das primeiras semanas de Dilma Rousseff para as de Lula, na preparação dos respectivos governos, a mais relevante, por ora, não tem a ver com decisões ou condutas da futura presidente e de seus assessores. Nem foi incluída nos poucos fatos e muitas especulações que compõem o noticiário político destas semanas.
A novidade está na inércia e no silêncio do circuito que conjuga diferentes grupos de pressão para buscar, pela influência na composição do governo, alinhamento satisfatório com o setor financeiro, com o agro-industrial e outros também fortes. Em igual altura da preparação do governo Fernando Henrique, multiplicavam-se as informações sobre a agitação dos que temiam no ministério uma linha social-democrata, de que o PSDB se dizia adepto. O segundo mandato não escapou ileso, com as pressões - desnecessárias - para a continuidade de Pedro Malan, o impassível, entre outros.
A formação inicial do governo Lula foi uma sucessão de batalhas, às quais não faltou nem a participação externa. Dos EUA, no caso, cuja embaixadora à época, Donna Hrinak, teve papel decisivo na nomeação de Henrique Meirelles para a presidência do Banco Central.
Muito hábil, Hrinak compôs com José Dirceu os termos de um acordo em torno do ex-presidente do Bank of Boston. Recém-chegado de sua longa vida nos Estados Unidos e eleito deputado pelo PSDB, Meirelles, como pessoa de confiança do governo americano e do sistema financeiro internacional, conduziria a política monetária brasileira com dois privilégios sem precedente: seria indemissível e com poderes de plena autonomia na condução do BC. Acordo cumprido.
Nos últimos dias, e por certo nos próximos, Henrique Meirelles é o centro das considerações sobre a formação e a política econômica do futuro governo. Seria um dos momentos em que os grupos de pressão estariam na atividade máxima. Não é o que se observa, perceptível apenas, digamos, uma apreensão conformada. Mas todo palpite a respeito da permanência ou saída de Meirelles é gratuito, se não pode considerar um outro acordo, de termos desconhecidos.
Esse outro foi feito quando, no começo do ano, Meirelles tinha a hipótese de candidatar-se a governador de Goiás, e Lula desejou sua permanência até o fim do governo. As perspectivas compensatórias continuam sob sigilo, mas sem dúvida têm influência nos destinos próximos de Meirelles, do BC e da política monetária brasileira.
Se veio para perdurar, como ocorre nos países com instituições políticas menos precárias, a nova conduta do circuito poderoso ofertará um grande passo à construção da democracia. Otimismo e pessimismo, a respeito, são porém temerários. É claro que, hoje e no futuro, o papel das circunstâncias é determinante. Hoje pode-se dizer, por exemplo, que o quase nenhum relacionamento passado de Dilma Rousseff com o empresariado financeiro, ou com o grande empresariado em geral, cria cuidados cerimoniosos que distanciam condutas pressionantes. Quando a distância diminuir, já teremos melhor ideia da novidade observada: se fruto de amadurecimento democrático ou de dificuldades circunstanciais.
AQUELE SAMBA
A proposta, circulante no PSDB, de que a reestruturação do partido seja desenhada pelo quarteto Fernando Henrique, Tasso Jereissati, José Serra e Aécio Neves é, para dizer o menos, tresloucada. Afinal de contas, o PSDB que não se conforma com ele mesmo foi levado a isso pela influência predominante dos três primeiros. Os quais, para completar o desatino, estão entre os que cobram reformulação ampla do partido.
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