Batom na Fazenda
CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SÃO PAULO - 21/11/10
SÃO PAULO - "The Economist" cobrou de Dilma Rousseff, logo após a sua vitória, que não fosse apenas um "Lula com batom". Ainda que vagamente machista, a expressão é um achado, tanto que foi reproduzida pela mídia local.
Como era inevitável, a manutenção de Guido Mantega no Ministério da Fazenda acabou sendo tratada como o primeiro ato de Dilma-Lula-com-batom. Talvez até seja, porque o presidente não escondeu o desejo de que o ministro permanecesse no cargo. Mas olhando com um pouco mais de perspectiva, a primeira nomeação de Dilma tem uma lógica perfeita.
Vejamos: Mantega e Dilma trabalharam juntos em diferentes prédios da Esplanada dos Ministérios durante oito anos. Nos últimos cinco, foram os dois ministros principais do governo. É lógico supor que atuavam coordenadamente.
É verdade que Mantega, até 2008, foi apenas o gestor do piloto automático na economia, legado por Antônio Palocci. Mas, na crise, que é quando se revelam os bons pilotos de tormenta, assumiu de fato o cargo. De novo, a mais elementar lógica manda dizer que ele, Dilma (e, claro, Lula) agiram em conjunto o tempo todo.
Deu certo. Embora o Brasil tenha perdido um ano de crescimento, saiu da crise mais depressa e mais sólido do que o mundo rico.
Se a dobradinha funcionou na turbulência, ainda que os méritos tenham ficado mais para Lula e Mantega, é natural manter o ministro quando a turbulência é menor e o panorama imediato é favorável.
Afinal, Mantega mostrou-se capaz de administrar tanto o "paloccismo", que fez - e faz - a delícia dos ortodoxos, como o desenvolvimentismo, que é a única outra alternativa hoje disponível no supermercado de propostas do governo, o atual e o futuro.
Mudar só para mostrar que não é apenas "Lula com batom" seria feminismo tolo, não?
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