Parem os mercados
CLOVIS ROSSI
FOLHA DE SÃO PAULO - 25/11/10
SÃO PAULO - Já imaginou se o governo Dilma Rousseff tivesse que fazer um ajuste fiscal (redução de gastos e aumento de impostos) de uns R$ 345 bilhões? Estaria politicamente morto, além de causar um baita sofrimento ao país.
Pois é algo desse tamanho, na proporção das respectivas economias, que a Irlanda está sendo constrangida a engolir.
Não é preciso ser Ph.D em nada para perceber que o país está condenado a um punhado de anos de mediocridade econômica e de desemprego elevado (já está em 14,1%, um baita absurdo).
Você, incorrigível otimista, dirá, com razão, que não há no horizonte tapuia a mais leve indicação de que se possa chegar a uma situação irlandesa. Mas:
1 - Também não havia grandes nuvens no horizonte de 2008, quando uma crise fabricada externamente levou o Brasil a perder um ano de crescimento (2009), o que é dramático quando se sabe que o país precisa do contrário, ou seja, crescer dois anos em um ano para tirar o atraso secular.
Uma nova crise externa pode atrapalhar muito.
2 - O Brasil faz parte do G20, o clubão que deveria discutir o grande desequilíbrio da economia moderna, que, mais do que os enormes saldos chineses versus o imenso deficit norte-americano, está dado pela diferença de tempo entre a ação dos mercados (em geral especulativa) e a reação dos governos.
Um governo como o irlandês (pode citar qualquer outro europeu que também vale) precisa de quatro anos para ajustar suas contas, de resto desajustadas pela irresponsabilidade do setor privado, não do próprio governo. O mercado, ao contrário, ataca diariamente, caçando recompensas e pondo os governos contra as cordas.
É urgente mudar os tempos dessa queda de braço sob pena de a instabilidade tornar-se estável, com perdão da contradição em termos.
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