sábado, novembro 13, 2010

CLÓVIS ROSSI

Da intuição à razão na diplomacia 
Clóvis Rossi
FOLHA DE SÃO PAULO - 13/11/10


Dilma tenderá mais a consolidar instrumentos criados pelo antecessor do que a criar novidades



SEUL (COREIA DO SUL) - Sai um absoluto intuitivo, chamado Luiz Inácio Lula da Silva, entra uma profissional da racionalidade, de nome Dilma Vana Rousseff.
Essa inversão de personalidades no Palácio do Planalto terá consequências também na política externa brasileira, embora ainda seja cedo para esmiuçar detalhes porque não é (nunca é, aliás) prioridade de campanha e, portanto, não demanda atenção especial.
Mas, se depender do entorno de Dilma, a palavra "institucionalização" -de claro contorno tecnocrático- terá predominância na sua ação externa.
É uma palavrinha incapaz de provocar qualquer emoção forte, mas necessária.
Traduzindo: se a opinião de seus assessores prevalecer, Dilma dedicará mais tempo e esforços a institucionalizar instrumentos criados ou consolidados no governo Lula do que a novas iniciativas.
Concretamente: BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), Unasul (União de Nações Sul-Americanas, o grupo de todos os países da América do Sul), além do Mercosul, precisam se tornar realmente operativos, não convescotes anuais (caso BRIC) ou periódicos (caso Unasul).
Do meu ponto de vista, aliás, o BRIC precisa de mais do que institucionalização.
Inexiste como instrumento de ação conjunta. Pode até ser forte, pode até ser relevante, mas pelo que cada um dos países do grupo é.
Exemplos contundentes de falta de ação conjunta:
1 - China e Rússia votaram a favor da mais recente leva de sanções das Nações Unidas ao Irã. O governo brasileiro votou contra. A Índia não é membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas e, portanto, não precisava votar.
2 - O Brasil aponta o dedo para a China no caso do câmbio, acusando-a de desvalorizar artificialmente a sua moeda, o que cria uma competição desleal com quem, como o Brasil, deixa o câmbio flutuar (com o inconveniente de que só tem flutuado para cima).
Parceiros que prezam o sócio não criam esse tipo de problema para o outro.
Fica claro, portanto, que institucionalizar o BRIC é uma necessidade, sim, embora as chances de que de fato atuem coordenadamente pareçam remotas.
Na verdade, China e Brasil têm tudo para serem mais rivais que sócios, competindo por mercados.
O caso da Unasul é diferente. Há uma identidade imensamente maior, há a contiguidade geográfica e, por extensão, interesses compartilhados. Mas, até agora, o bloco agiu mais por espasmos do que por uma estrutura eficaz e funcional.
Ainda por cima, sofreu a perda de seu primeiro secretário-geral, o ex-presidente argentino Néstor Kirchner, muito pouco tempo depois de ter sido agente relevante para evitar que a crise que a polícia equatoriana provocou tivesse consequências mais sérias.
Fica claro que o período Lula, de intenso movimento na área de conglomerados regionais ou globais, conhecerá uma pausa na agitação em benefício de uma maior racionalidade e eficácia operativa.
O que está perfeitamente de acordo com o jeito de ser de Lula e Dilma

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