Em cima da hora
LUIZ GARCIA
O GLOBO - 01/10/10
Em primeiro lugar, é voto que não acaba mais: um presidente, dois senadores, um deputado federal, outro estadual.
Quem não levar uma cola com os números dessa turma toda, corre diversos riscos: não votar em todo mundo, votar errado, demorar um tempão na cabine, cair em choro convulsivo etc.
Tem mais: quantos documentos você precisa levar? Até quinta-feira, não se sabia ao certo. Na véspera, o Supremo Tribunal Federal não tinha decidido se era ou não constitucional a lei que obriga a apresentação de duas provas de identidade: o título de eleitor e mais qualquer documento com foto. A tendência dos ministros era de declarar que basta a prova de identidade.
É evidente que a foto é uma garantia de legitimidade do voto. Mas por que não se pensou nisso antes? Afinal de contas, o título sem foto é considerado suficiente há anos e anos — e era mesmo preciso esperar até os últimos dias antes de uma eleição presidencial para resolver se ele basta ou não? Seja qual for a decisão do STF, comunicá-la a todas a seções eleitorais do país vai ser um trabalhão e um fator de confusão. Não? Se o Supremo tiver decidido que basta um documento com foto, terá sido a morte do título de eleitor. Uma pena: vocês, não sei, mas eu tinha um certo orgulho do meu. Assim como tristes lembranças dos anos que ele passou sem sair da gaveta.
Na verdade, o certo seria o título com foto, que dificulta a fraude. E é extraordinário que até não se tenha pensado nisso. Mas é também incrível que só agora, dias antes de uma eleição presidencial, o assunto esteja sendo resolvido.
Como o STF cometeu a descortesia de deixar a decisão para o dia em que tenho de entregar o artigo, esta minhas sábias considerações sobre o assunto poderão estar superadas para o leitor. Lamento muito, mas a culpa é do tribunal.
Que está sendo reincidente: também não conseguiu resolver, pelo menos até quarta-feira, se a Lei da Ficha Limpa está valendo para estas eleições.
Vocês não têm a impressão, de vez em quando, que Brasília fica em outro planeta? Enfim, começamos com problemas a festa cívica. Mas sempre podemos torcer para que o eleitor mostre mais eficiência ao cumprir sua obrigação depois de amanhã.
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