O que Lula sabia
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 20/09/10
Quando Lula tomou a decisão de demitir, a 60 dias das eleições, o então presidente dos Correios, Carlos Henrique Custódio, e o diretor de gestão de pessoas, Pedro Magalhães Bifano, sabia que, além do descalabro administrativo, havia uma guerra de facções prestes a explodir na estatal. Pouco antes da degola, Custódio e Bifano tiveram uma briga feia, em que trocaram todo tipo de acusações. Foi numa reunião de diretoria, e a gravação do encontro foi mostrada a Lula, que então concluiu que a situação era insustentável.
Como no escândalo do mensalão, a luta por espaço nos Correios está na origem das revelações que resultaram na queda de Erenice Guerra da Casa Civil.
Menos, menos - Com todo o cuidado possível, o alto comando da campanha de Dilma Rousseff sugeriu a Lula desacelerar a agenda e não pesar tanto a mão, como fez ao defender que o DEM fosse “extirpado” da política brasileira e, anteontem, nos ataques à imprensa. Argumento: ele está (?) se despedindo; ela, se eleita, terá de dar conta da confusão armada.
Nem aí - Quem conhece Lula acha que a conversa será inútil. O presidente está, nas palavras de um auxiliar próximo, “com a macaca”.
O guardião - A participação de Michel Temer (PMDB) no comício de sábado em Campinas chamou atenção. Enquanto Lula e petistas tocavam fogo no circo, o vice de Dilma fez discurso conciliatório e focado nas conquistas econômicas do governo.
Atrás da porta - Na lembrança de funcionários da Casa Civil, Vinicius Castro, primeiro a cair no escândalo que derubou Erenice Guerra, passava boa parte do tempo fechado em sua sala. Se estava num esquema, tinha mais jeito de operador do que de chefe, opinam ex-colegas.
Quem diria - Menos de duas semanas atrás, reportagens especulativas sobre a composição do eventual governo Dilma diziam que, caso se decidisse por um perfil “menos político e mais administrativo” para a Casa Civil, uma opção da petista seria manter Erenice no cargo.
Dia D - O martelo ainda não foi batido, mas é provável que no dia 3 de outubro Dilma, depois de votar em Porto Alegre, siga para Brasília, onde acompanhará as apurações ao lado de Lula.
Precedente - Diante da possibilidade de eleger menos deputados do que o PT, e com isso perder a primazia na disputa pela presidência da Câmara, o PMDB agora lembra que o petista Arlindo Chinaglia ocupou o posto (de 2007 a 2009) quando os peemedebistas tinham a maior bancada. Outro argumento: o PMDB seria mais hábil em conseguir o apoio de outras siglas para seu candidato.
Difícil - Apesar desse discurso, pouca gente hoje acredita que será possível negar a presidência da Câmara ao PT se o partido de fato eleger a maior bancada, como sugerem pesquisas, especialmente porque no Senado o PMDB se valerá da mesma lógica para continuar no comando.
Picadeiro - Além de Tiririca, outro humorista se credencia para triunfar nas urnas, indicam as projeções. Batoré, hoje vereador no município de Mauá (SP), é o terceiro candidato do PP mais mencionado para a Câmara.
A bela - Bruna Furlan, 26, desbanca veteranos puxadores de votos do PSDB-SP nos levantamentos que computam citações a candidatos a deputado. Filha do prefeito de Barueri, Rubens Furlan, e congregada da Igreja Cristã do Brasil, ela aparece no topo da lista da coligação tucana.
Funcionou - A situação da corrida pelas cadeiras da Assembleia Legislativa paulista parece endossar a estratégia do PT de privilegiar, na propaganda televisiva, a pregação do voto na legenda. As menções diretas ao partido superam por ampla margem as indicações nominais a candidatos de qualquer sigla em pesquisas que examinam as inclinações do eleitorado.
Tiroteio
Erenice diz que foi traída. Dilma diz que não sabia de nada. Ou Dilma foi enganada esses anos todos, ou o Lula está fazendo escola.
DO DEPUTADO GUSTAVO FRUET (PSDB-PR), comparando a reação de Dilma ao escândalo que levou à queda da sua ex-auxiliar de confiança com a maneira como o presidente Lula reagiu durante a crise do mensalão.
Contraponto
Casual-chique
Lula apareceu em comício no município de Contagem (MG), na semana passada, com visual descontraído: camisa branca sobre camiseta da mesma cor, ambas para fora da calça. Ao avistá-lo, o ex-senador Wellington Salgado (PMDB-MG) comentou, levando os presentes às gargalhadas:
- Demite o personal stylist, presidente. Até parece que o senhor já está aposentado!
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