Crescer não basta
Miriam Leitão
O Globo - 08/09/2010
A exuberância da economia em 2010 e as previsões de que o crescimento permanecerá robusto em 2011, acima dos 5%, pode levar a conclusões apressadas de que a receita está dada para se resolver todos os problemas do país. Não é simples assim. O desafio, tentado sem sucesso no passado, é sustentar esse crescimento, removendo gargalos que inviabilizam um avanço firme e sem recuos nessa direção.
O economista Julio de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, considera que o novo governo terá que encarar de imediato os desafios que se colocam para assegurar o crescimento sustentado. Os gargalos na infraestrutura são enormes e tendem a crescer com a expansão da economia: portos, aeroportos e estradas sem condições de atender às demandas de uma economia acelerada elevam os custos do crescimento, assim como a falta de mão de obra qualificada.
Os investimentos públicos têm aumentado, destaca o economista, mas estão atrasados. Há um prazo para que o investimento responda à demanda; leva, no mínimo, dois anos. O setor privado está investindo no aumento da produção, mas também neste caso há um tempo de maturação. Enquanto os gargalos não forem resolvidos, perdemos competitividade e o país não se apropria inteiramente dos benefícios do crescimento.
— O desenvolvimento fica capenga — define Almeida.
O economista Edgard Pereira lembra que para sustentar um crescimento de 5%, o país precisará elevar a taxa de investimentos em quatro pontos percentuais, para 21% do PIB, um esforço que não é trivial.
Na sua avaliação, caberá ao novo governo atuar em várias frentes. De um lado, estimular os investimentos privados, reduzindo custos da produção e criando condições para o financiamento privado de longo prazo, com regulação e redução de compulsórios, por exemplo.
De outro, criar espaço no Orçamento para uma elevação vigorosa dos investimentos públicos e isso passa pela contenção dos gastos correntes, na visão do economista.
Se o governo continuar estimulando a demanda interna por meio desses gastos, o crescimento virá acompanhado de um agravamento do déficit nas transações correntes, o que no médio prazo pode resultar no recuo que ninguém deseja.
— O déficit até certa magnitude é aceitável, mas se for financiar consumo e investimentos pode trazer problemas sérios no futuro — alerta Edgar Pereira.
Hora da sinergia
O gráfico abaixo apresenta um panorama das mudanças no mercado de telecomunicações no Brasil.
A receita das empresas cresce menos do que no passado. O motivo, segundo o presidente da consultoria Teleco, Eduardo Tude, é a saturação das vendas de celulares no país, que já se aproxima da densidade de uma linha por habitante.
— O mercado está chegando a uma nova fronteira.
A partir de agora, o crescimento da receita não se dará com a entrada de novos consumidores no mercado de celulares, mas sim com o fornecimento de serviços de dados, tanto para telefonia móvel quanto pela fixa. Por isso, as sinergias são importantes, porque reduzem custos e aumentam os ganhos de escala — explica.
De fato, cada vez mais as empresas de telecomunicações estão oferecendo pacotes de serviços aos consumidores, os chamados combo, que incluem telefonia móvel, fixa, internet banda larga e TV por assinatura.
O setor aguarda com ansiedade a votação do Projeto de Lei 29, que libera a entrada de grupos estrangeiros no segmento de TV por assinatura.
— Esperamos um crescimento do setor de telefonia de cerca de 3,2% este ano, abaixo da expansão do PIB. Mas se o PL 29 for aprovado, em 2011 esse resultado será melhor — prevê.
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