Até onde vão as reservas?
Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 15/09/2010
O Banco Central não consegue apresentar uma justificativa consistente para a atual política de compra de dólares e formação de reservas.
Argumenta, com razão, que o alto volume de reservas foi um dos principais motivos pelos quais o Brasil passou com sobras pela maior crise do capitalismo global desde os anos 30. Foi a exibição dessa musculatura que desencorajou eventuais evasões de moeda estrangeira.
No entanto, se reservas de US$ 200 bilhões foram mais do que suficientes para que a crise não passasse de simples marolinha, boa pergunta consiste em saber por que, então, é preciso mais. Por que continuar amontoando reservas se uma eventual recaída na crise não vai exigir blindagem maior do que a que foi necessária para enfrentar o tsunami de 2008-09? As reservas estão hoje a US$ 263 bilhões (veja gráfico) e poderão saltar para perto dos US$ 300 bilhões até o final do ano, apenas levando em conta a entrada programada de moeda estrangeira nas próximas semanas.
Se a formação de reservas não tivesse um alto custo para o País, não haveria contraindicação. A maior parte das reservas do Brasil é aplicada em títulos de dívida de países ricos, especialmente dos Estados Unidos, e rendem alguma coisa em torno dos 2% ao ano. Mas essas compras de moeda estrangeira exigem uma operação de esterilização dos reais usados pelo Banco Central para pagamento dessas compras. Ou seja, exigem retirada desses reais do mercado por meio da venda de títulos do Tesouro do Brasil. E, no entanto, esses títulos pagam juros equivalentes aos da Selic, hoje de 10,75% ao ano. Isso significa que, numa conta rápida, reservas de US$ 263 bilhões custam em torno de US$ 18 bilhões ao ano para os cofres públicos.
Mais do que isso, quanto maior a pilha de reservas em exibição, mais o Brasil tende a atrair dólares. Por isso, se o objetivo do momento é evitar essa inundação verde, melhor seria parar por aqui.
Os dirigentes do Banco Central seriam mais sinceros se admitissem que não compram moeda estrangeira apenas para evitar grande volatilidade no câmbio interno ou, então, para formar reservas que hoje não são mais necessárias para defender a economia contra as crises. O Banco Central continua comprando dólares porque pretende evitar uma excessiva valorização do real (queda do dólar no câmbio interno).
Não há nada de errado em que se aprofunde a intervenção do Banco Central no câmbio para essa finalidade. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, por exemplo, não esconde que pretende uma boa desvalorização do real diante do dólar. Para isso, não só avisa que apoiaria a atuação do Banco Central no mercado de derivativos com esse objetivo, como também anuncia que está preparando pacote destinado a criar condições para uma recuperação das cotações do câmbio.
Ainda assim, quando avisa que está estudando intervenção no mercado de derivativos (mercado futuro), o Banco Central acena com outro objetivo: o de evitar a derrubada das cotações no mercado à vista provocada pela forte venda no câmbio futuro.
Mas, nessas condições, estaria admitindo que tem em mente um piso para a cotação da moeda estrangeira.
Confira
O dia do pânico
Dois anos após a quebra do Lehman Brothers e do terror avassalador que a ele se seguiu, ainda se pergunta por aí se não teria saído mais barato para as autoridades americanas resgatar de uma vez o banco e, assim, ter evitado que o Fed despejasse US$ 2 trilhões, para segurar o mercado, e o Tesouro americano outros US$ 700 bilhões.
Prejuízo incalculávelO Lehman era apenas o quarto banco de investimentos dos Estados Unidos e, no entanto, quando afundou produziu o estrago conhecido.
A chantagem dos bancos
Se o Lehman não tivesse quebrado, talvez não tivesse sido recuperada a noção de risco nem a de que os bancos estão, sim, sujeitos a desaparecer, tanto eles como o dinheiro dos aplicadores. Em compensação, foi tamanho o pânico produzido que os grandes bancos passaram a chantagear as autoridades, na base de ou vocês nos socorrem ou vamos todos para o buraco. A resposta à pergunta continua difícil e controversa.
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