Impossível ser criança
Ruy Castro
FOLHA DE SÃO PAULO - 16/08/10
Do noticiário da semana passada. Em Araraquara, SP, um garoto de 13 anos foi acusado de chefiar outros quatro meninos que, armados com facas, assaltavam repúblicas de estudantes. O mesmo garoto dirigia o carro que, roubado para a fuga, capotou quando foram perseguidos. Eles conseguiram desvirá-lo e prosseguiram, mesmo com dois pneus furados, até serem capturados. Em Salvador, a PM deteve um adolescente acusado de assaltar uma loja e disparar os tiros que mataram Luísa, de nove anos, que passeava com a mãe pela Feira do Rolo.
Na Vila Kosmos, zona norte do Rio, quatro meninas, de três a dez anos, moradoras do morro Juramentinho, foram detidas pela polícia ao tentarem assaltar um prédio. Três delas disseram ser obrigadas pela mãe, usuária de crack, a roubar, e que eram ameaçadas a faca e espancadas quando voltavam de mãos vazias. A mãe usava o dinheiro dos assaltos para comprar droga. Outra mãe, esta em São José do Rio Preto, SP, mandava o filho de nove anos comprar cerveja na padaria. A dona da padaria vendia. A mãe e a comerciante foram presas. Em Nazaré da Mata, PE, a polícia prendeu um homem acusado de obrigar o filho de dez anos a cortar e preparar pedras de crack para venda. No momento do flagrante, o menino trabalhava em 29 pedras menores e uma grande. Acrescente a isto os casos de bebês mortos por suas mães, os relatos de alcoolismo e dependência de drogas cada vez mais precoces e a incidência de gravidez em adolescentes. Já não é possível ser criança. Elas são atiradas cada vez mais cedo para o mundo adulto, com seus horrores e misérias. Não admira que, nos EUA, uma pesquisa tenha apontado que meninas a partir de 7 anos já mostram sinais de puberdade – primeira menstruação, aparecimento dos seios, pelos pubianos. Afinal, para que esperar?
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