Momentos opostos
Miriam Leitão
O Globo - 16/06/2010
O Brasil está aqui nas comemorações do crescimento e da copa. Melhor para nós. Lá fora, a crise continua em novos desdobramentos. Agora se espera uma onda de balanços ruins dos bancos europeus. O mercado interbancário deles está parado. Nos Estados Unidos, a expectativa é de uma queda do ritmo de recuperação no segundo semestre. No Brasil, há motivos para otimismo
Este ano o crescimento do Brasil está garantido. O país crescerá menos nos outros trimestres em relação ao primeiro, mas terminará com número exuberante. O ritmo do consumo e o nível da euforia não são garantias de vitória do governo nas eleições, mas, sem dúvida, vão ajudar a candidata governista.
Nos EUA e principalmente na Europa a conjuntura tem tido sinais preocupantes: — A Europa está muito preocupante. A crise bancária continua e acho que o risco no horizonte é mais ou menos o que está acontecendo na Bélgica (na última eleição, os separatistas tiveram um crescimento expressivo). Lá, são os separatistas, em outros países podem aparecer demagogos de todo o tipo. O sofrimento econômico longo sempre cria situações perigosas — disse Luiz Carlos Mendonça de Barros.
A crise dos países ricos está fazendo movimentos circulares.
Os governos se endividaram e aumentaram o déficit para socorrer os bancos, agora os bancos que têm títulos das dividas de governos nos ativos terão prejuízos.
Papéis de alguns países se desvalorizaram muito e os bancos terão que dar baixa nos seus balanços desses ativos.
Dois problemas: eles estão com menos capacidade de financiar a recuperação; o interbancário travou porque todos desconfiam de todos e isso está aumentando o nível de empréstimo do Banco Central Europeu aos bancos.
O novo rebaixamento da dívida grega para nível especulativo só piora o quadro.
A “Carta Galanto”, dos economistas Dionísio Dias Carneiro e Monica de Bolle, mostra bem o efeito dominó: “A crise, que era grega, é claramente europeia e pôs em dúvida os títulos dos países cujas dúvidas sofrem do mesmo mal fundamental: orçamentos insustentáveis. Afetou a liquidez bancária da região e atingiu o BCE, espalhou a desconfiança no euro, derrubou bolsas em todo mundo, provocou aumento considerável da volatilidade cambial e deslocou o prêmio de risco das dívidas públicas e privadas.” Pela análise, isso fez com que o lançamento de bonds de bancos e empresas, inclusive brasileiras, fossem adiados e aumentou os temores de um novo mergulho da economia mundial em 2011. Se acontecer isso, o Brasil certamente será afetado.
Mas este ano há razões de sobra para comemoração, segundo Mendonça de Barros: — Alguns dados sustentam a boa fase do Brasil. Primeiro a valorização dos produtos vendidos pelo país. Os termos de troca, segundo levantamento que fizemos, estão no ponto mais alto dos preços dos produtos que o Brasil exporta. O outro é o aumento da capacidade de compra do brasileiro. Fizemos o cálculo de quantos salários mínimos são necessários para a compra de um carro popular. O gráfico impressiona porque caiu o preço do carro em relação ao IPCA, subiu o salário mínimo além da inflação. Isso tudo fez despencar a relação.
Os gráficos estão abaixo.
Num, mostrando como base 100 o ano de 2006, fica claro que os termos de troca estão num ponto favorável, ou seja, o preço dos produtos brasileiros subiu muito em relação ao preço do que o país importa. Por outro lado, o consumo interno pode ser sustentado pelo poder de compra. O que pode ameaçar esse segundo pilar é a inflação.
Por isso todo cuidado é pouco. Ninguém ganha de goleada subestimando o adversário.
Na economia, como no futebol, quem acha que o adversário é fraco pode até ganhar, mas passa sufoco.
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